terça-feira, 23 de agosto de 2022

 

A Atitude Correta com a Soberania de Deus.

Autor: Rev. Prof. Dr. A.W. Pink. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

"Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. (Mt. 11:26 ACF)”.

No presente capítulo, consideraremos, um tanto brevemente, a aplicação prática a nós mesmos da grande verdade que ponderamos em suas várias ramificações nas páginas anteriores. No capítulo doze trataremos mais detalhadamente do valor dessa doutrina, mas aqui nos limitaremos a uma definição do que deve ser nossa atitude para com a Soberania de Deus. Toda verdade que nos é revelada na Palavra de Deus existe não apenas para nossa informação, mas também para nossa inspiração.

A Bíblia nos foi dada não para satisfazer uma curiosidade ociosa, mas para edificar as almas de seus leitores. A Soberania de Deus é algo mais do que um princípio abstrato que explica a lógica do governo Divino; é projetado como um motivo para o temor piedoso, é dado a conhecer a nós para a promoção de uma vida justa, é revelado para trazer em sujeição nossos corações rebeldes. Um verdadeiro reconhecimento da Soberania de Deus humilha como nada mais faz ou pode humilhar, e traz o coração a uma submissão humilde diante de Deus, levando-nos a abrir mão de nossa própria vontade e fazendo-nos deleitar-nos na percepção e desempenho da vontade soberana e exaustiva de DEUS.

Quando falamos da Soberania de Deus, queremos dizer muito mais do que o exercício do poder governamental de Deus, embora, é claro, isso esteja incluído na expressão. Como observamos em um capítulo anterior, a Soberania de Deus significa a Divindade de Deus. Em seu significado mais completo e profundo, Soberania aqui, significa o caráter e o ser daquele cujo prazer é realizado e cuja vontade é plenamente executada. Reconhecer verdadeiramente a Soberania de Deus é, portanto, contemplar o Próprio Soberano. É entrar na presença da augusta "Majestade nas alturas". É ter uma visão do Deus três vezes santo em Sua excelente glória. Os efeitos de tal visão pode ser aprendida daquelas Escrituras que descrevem a experiência de diferentes pessoas que obtiveram uma visão do Senhor Deus.

Marque a experiência de Jó - aquele de quem o próprio Senhor disse: "Não há ninguém semelhante a ele na terra, homem perfeito e reto, que teme a Deus e se desvia do mal" (Jó. 1:8). No final do livro que leva seu nome, vemos Jó na presença divina, e como ele se comporta quando confrontado com Jeová? Ouça o que ele diz: "Eu ouvi de Ti pelo ouvido do ouvido, mas agora meus olhos Te veem: Portanto, em pó e cinza" (Jó 42: 5, 6). Assim, uma visão de Deus, revelado em impressionante majestade, fez com que Jó se abominasse, e não apenas isso, mas também, abominou a si mesmo e se arrependeu e rebaixou-se diante do Todo-Poderoso.

Tome nota de Isaías. No sexto capítulo de sua profecia nos é apresentada uma cena que tem poucos iguais, mesmo nas Escrituras. O profeta contempla o Senhor sobre o Trono, um Trono "alto e sublime". Acima deste Trono estavam os serafins com rostos velados, clamando: "Santo, santo, santo, é o Senhor dos Exércitos". Qual é o efeito dessa visão sobre o profeta? Lemos: "Então disse eu, Ai de mim! pois estou desfeito; porque sou um homem de lábios impuros... porque os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos" (Is. 6:5). Rei Divino humilhou Isaías no pó, levando-o, como fez, à compreensão de sua própria nulidade.

Mais um. Veja o profeta Daniel. Perto do fim de sua vida, este homem de Deus contemplou o Senhor em manifestação teofânica; Ele apareceu ao Seu servo em forma humana "vestido de linho" e com lombos "cingidos de ouro fino", símbolo de santidade e glória divina, Lemos que "o seu corpo também era como o berilo, e o seu rosto como a aparência de um relâmpago, e os seus olhos como lâmpadas de fogo, e os seus braços e os seus pés como na cor do bronze polido, e a voz das suas palavras como a voz de uma multidão." Daniel então conta o efeito que esta visão teve sobre ele e aqueles que estavam com ele: "E eu, Daniel, só tive a visão; porque os homens que estavam comigo não viram a visão; mas um grande tremor caiu sobre eles, de modo que fugiram para se esconderem. Portanto, fiquei sozinho e tive esta grande visão, e não restava força em mim; porque a minha beleza se transformou em corrupção, e não retive forças. No entanto, ouvi a voz das suas palavras; e, quando ouvi a voz das suas palavras, adormeci profundamente sobre o meu rosto e meu rosto em direção ao chão e ao pó diante de meu Criador.” (Dn. 10: 6-9).

Qual então deveria/deve; ser nossa atitude para com o Exaustivamente Soberano e Supremo DEUS?

1. Uma atitude de profundo temor a Deus. Por que, hoje, as massas estão tão despreocupadas com as coisas espirituais e eternas, e que são mais amantes dos prazeres do que amantes de Deus? Por que mesmo nos campos de batalha as multidões eram tão indiferentes ao bem-estar de suas almas? Por que o desafio ao Céu está se tornando mais aberto, mais descarado, mais ousado? A resposta é: Porque "não há temor de Deus diante de seus olhos" (Rom. 3:18). Novamente; por que a autoridade das Escrituras foi tão tristemente diminuída ultimamente? Por que é que mesmo entre aqueles que professam ser o povo do Senhor há tão pouca sujeição real à Sua Palavra, e que seus preceitos são tão pouco estimados e tão prontamente postos de lado? Ah! o que precisa ser enfatizado hoje é que Deus é um Deus a ser temido.

"O temor do Senhor é o princípio do conhecimento” (Pv. 1:7). Sua graça soberana. Alguém diz: "Mas é somente os não salvos, aqueles" (Sl. 103:13)! fora de Cristo, que precisam temer a Deus"? Então a resposta suficiente é que os salvos, aqueles que estão em Cristo, são admoestados a operar sua própria salvação com "temor e tremor".

Houve um tempo em que era costume geral falar de um crente como um "homem temente a Deus" - que tal denominação tornou-se quase extinta serve apenas para mostrar para onde nos desviamos. No entanto, ainda está escrito: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.

Quando falamos de temor piedoso, é claro, não nos referimos a um temor servil, como o que prevalece entre os pagãos em relação a seus deuses. Não; queremos dizer aquele espírito que Jeová se comprometeu a abençoar, aquele espírito ao qual o profeta se referiu quando disse: "Para este homem olharei eu  (o Senhor), sim, para o pobre e contrito de espírito, que tem e treme diante da minha palavra "Temei a Deus. Honrai o rei" (1Pe. 2:17). E nada promoverá esse temor piedoso como o reconhecimento da Soberana Exaustiva e Absoluta da Majestade de Deus. (Is. 66:2). Era isso que o Apóstolo tinha em vista quando escreveu: "Honra a todos os homens. Ame a fraternidade.

Qual deve ser nossa atitude para com a Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus? Respondemos novamente:

2. Uma atitude de obediência implícita Para com DEUS. Uma visão profunda da Soberania exaustiva e Absoluta de Deus, leva a uma percepção de nossa miséria/pequenez!!! e resulta automaticamente; em um sentimento de dependência e de nos lançarmos em Deus. Ou, novamente; uma visão da Divina Majestade promove o espírito de temor piedoso e isso, por sua vez, gera uma caminhada obediente.

Aqui, então, está o antídoto divino para o mal inato, de nossos corações 100% depravados. Naturalmente, o homem está repleto de um senso de sua própria importância, com sua grandeza e auto-suficiência; em uma palavra, com orgulho e rebeldia. Mas, como observamos, o grande corretivo é contemplar o Deus Poderoso, pois somente isso o humilhará realmente. O homem se gloriará em si mesmo ou em Deus. O homem viverá ou para servir e agradar a si mesmo, ou procurará servir e agradar ao Senhor. Ninguém pode servir a dois senhores.

A irreverência gera desobediência. Disse o altivo monarca do Egito: "Quem é o Senhor para que eu obedeça à sua voz para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, um deus, um entre muitos, uma entidade impotente que não precisava ser temida ou servida. Quão tristemente enganado ele estava, e quão amargamente ele teve que pagar por seu erro, ele logo descobriu; mas o que aqui procuramos enfatizar é que o espírito desafiador de Faraó era fruto da irreverência, e essa irreverência era consequência de sua ignorância da majestade e autoridade do Ser Divino. nem deixarei ir a Israel” (Ex. 5:2). Para Faraó, o Deus dos hebreus era meramente um ídolo qualquer!!!

Agora, se a irreverência gera desobediência, a verdadeira reverência produzirá e promoverá a obediência. Perceber que as Sagradas Escrituras são uma revelação do Altíssimo, comunicando-nos Sua mente e definindo para nós Sua vontade, é o primeiro passo para a piedade prática. Reconhecer que a Bíblia é a Palavra de Deus, e que seus preceitos são os preceitos do Todo-Poderoso, nos levará a ver que coisa terrível é desprezá-los e ignorá-los.

Receber a Bíblia como dirigida às nossas próprias almas, dada a nós pelo próprio Criador, nos fará clamar com o salmista: "Inclina o meu coração aos teus testemunhos...Ordena os meus passos na Tua Palavra" (Sl. 119: 36, 133). Uma vez apreendida a Soberania do Autor da Palavra, não será mais uma questão de escolher entre os preceitos e estatutos dessa Palavra, selecionar aqueles que encontram nossa aprovação; mas veremos que nada menos do que uma submissão incondicional e sincera se torna a criatura.

Qual deve ser nossa atitude para com a Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus?

3. Uma atitude de renúncia total e absoluta. Um verdadeiro reconhecimento da Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus excluirá toda murmuração. Isso é auto-evidente, mas o pensamento merece ser considerado. É natural murmurar contra aflições e perdas em nosso caminho. É natural reclamar quando somos privados daquilo em que colocamos nossos corações. Estamos aptos a considerar nossas posses como nossas incondicionalmente. Sentimos que, quando executamos nossos planos com prudência e diligência, temos direito ao sucesso; que quando por força de trabalho árduo acumulamos uma 'competência' que merecemos para mantê-lo e apreciá-lo; que quando estamos cercados por uma família feliz, nenhum poder pode entrar legalmente no círculo encantado e derrubar um ente querido; e se em qualquer um desses casos o desapontamento, a falência, a morte realmente vierem, o instinto pervertido do coração humano é clamar contra Deus. Mas naquele que, pela graça, reconheceu a soberania de Deus, tal murmuração é silenciada e, em vez disso, há uma reverência à vontade divina e um reconhecimento de que Ele não nos afligiu tanto quanto de fato, merecemos.

Um verdadeiro reconhecimento da Soberania de Deus confessará o perfeito direito de Deus de fazer conosco o que Ele quiser. Aquele que se curva ao prazer do Todo-Poderoso reconhecerá Seu direito absoluto de fazer conosco o que lhe parecer bom. Se Ele escolher enviar pobreza, doença, luto doméstico, mesmo enquanto o coração está sangrando por todos os poros, ele dirá: O Juiz de toda a terra não fará o que é certo! Muitas vezes haverá uma luta, pois, a mente carnal permanece no crente até o fim de sua peregrinação terrena. Mas, embora possa haver um conflito dentro de seu peito, no entanto, para aquele que realmente se rendeu (ou foi rendido); a esta bendita verdade, logo será ouvida aquela Voz dizendo, como antigamente disse o apóstolo da igreja dos gentis, Paulo: "Posso todas as coisas; naquele que me fortalece"!!!

Uma ilustração impressionante de uma alma curvando-se à vontade soberana de Deus é fornecida pela história de Eli, o sumo sacerdote de Israel. Em 1 Samuel 3, aprendemos como Deus revelou ao menino Samuel que Ele estava prestes a matar os dois filhos de Eli por causa de sua maldade, e no dia seguinte Samuel comunica esta mensagem ao sacerdote idoso. É difícil conceber uma inteligência mais terrível para o coração de um pai piedoso. O anúncio de que seu filho será atingido por morte súbita é, em qualquer circunstância, uma grande provação para qualquer pai, mas saber que seus dois filhos - no auge da idade adulta e totalmente despreparados irão morrer – ser cortado por um julgamento divino deve ter sido esmagador. No entanto, qual foi o efeito sobre Eli quando ele soube de Samuel as trágicas notícias? Que resposta ele deu quando ouviu a terrível notícia?

"E ele disse: É o Senhor; faça o que lhe parecer bem" (1Sam. 3:18). E nenhuma outra palavra lhe escapou. Maravilhosa submissão!!! Sublime resignação!!! Adorável exemplificação do poder da graça divina para controlar as afeições mais fortes do coração humano e subjugar a vontade rebelde, levando-a à aquiescência irrestrita ao prazer Soberano de Jeová.

Outro exemplo, igualmente impressionante, é visto na vida de Jó. Como se sabe, Jó era alguém que temia a Deus e evitava o mal. Se alguma vez houve alguém que poderia razoavelmente esperar que a providência divina sorrisse para ele - falamos como um homem - foi Jó. No entanto, como se saiu com ele? Por um tempo as linhas caíram para ele em lugares agradáveis. O Senhor encheu sua aljava dando-lhe sete filhos e três filhas. Ele o fez prosperar em seus negócios temporais até que ele possuísse grandes posses. Mas de repente o sol da vida se escondeu atrás de nuvens escuras. Em um único dia Jó perdeu não apenas seus rebanhos e manadas, mas também seus filhos e filhas. Chegou a notícia de que seu gado havia sido levado por ladrões e seus filhos mortos por um ciclone. E como ele recebeu essa notícia avassaladora? Ouça suas sublimes palavras: "O Senhor deu, e o Senhor tirou." Ele se curvou à vontade soberana de Jeová. Ele traçou suas aflições até a Primeira Causa delas.

Ele olhou para trás dos salteadores que haviam roubado seu gado, e além dos ventos que destruíram seus filhos, e viu-os, Mas não só Jó reconheceu a Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus, como também se regozijou nela. Às palavras: "O Senhor deu, e o Senhor tirou", acrescentou ele, "bendito seja o nome do Senhor" (Jó. 1:21) Novamente dizemos: Doce submissão! Sublime resignação!!!

Um verdadeiro reconhecimento da Soberania de Deus nos leva a manter todos os nossos planos em suspensão à vontade de Deus. O escritor recorda bem um incidente ocorrido na Inglaterra há mais de vinte anos. A rainha Vitória estava morta, e a data da coroação de seu filho mais velho, Eduardo, estava marcada para abril de 1902. Em todos os anúncios enviados, foram omitidas duas cartinhas, DV-Deo Volente: se Deus quiser!!! Planos foram feitos e todos os arranjos concluídos para as celebrações mais imponentes que a Inglaterra já havia testemunhado. Reis e imperadores de todas as partes da terra receberam convites para participar da cerimônia real. As proclamações do príncipe foram impressas e exibidas, mas, até onde o escritor sabe, as letras DV não foram encontradas em nenhuma delas. Um programa muito imponente havia sido arranjado, E então Deus interveio e todos os planos do homem foram frustrados.

Uma voz mansa e delicada foi ouvida dizendo: "Você avaliou sem mim", e o príncipe Edward foi acometido de apendicite, e sua coroação adiada por meses! Como observado, um verdadeiro reconhecimento da Soberania de Deus nos leva a manter nosso plano em suspenso à vontade de Deus. Faz-nos reconhecer que o Oleiro Divino tem poder absoluto sobre o barro e o molda de acordo com seu próprio prazer imperial. Isso nos leva a prestar atenção a essa advertência - agora, ai! tão geralmente desconsiderado – “Ide agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, e continuaremos lá um ano, e compraremos e venderemos, e obteremos lucro: enquanto vocês não sabem o que acontecerá amanhã. Pois, qual é a vossa vida? É mesmo um vapor, que aparece por um pouco de tempo e depois desaparece. Para que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo" (Tg. 4:13-15). Sim, é à vontade do Senhor que devemos nos curvar. Cabe a Ele dizer onde vou morar, se na América ou na África. Cabe a Ele determinar em que circunstâncias viverei, seja na riqueza ou na pobreza, seja na saúde ou na doença. Cabe a Ele dizer quanto tempo viverei, se serei cortado na juventude como a flor do campo, ou se continuarei vivendo por 50 ou 100 anos. Realmente aprender esta lição é, pela graça, alcançar uma forma elevada na escola de Deus, e mesmo quando pensamos que a aprendemos, descobrimos, repetidamente, que temos que reaprender.

Qual deve ser nossa atitude para com a Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus?

4. Uma atitude de profunda gratidão e alegria. A apreensão do coração desta verdade mais abençoada da Soberania de Deus produz algo muito diferente do que uma reverência sombria ao inevitável. A filosofia deste mundo perecível não sabe nada melhor do que "fazer o melhor de um trabalho ruim". Mas com o cristão deveria ser bem diferente.

O reconhecimento da supremacia de Deus não deve apenas gerar em nós temor piedoso, obediência implícita e inteira resignação, mas deve nos levar a dizer com o salmista: “Louvado seja Deus, para sempre e eternamente; de geração em geração.” O Apóstolo não diz: "Dando sempre graças por todas as coisas ao Deus e Pai, em nome de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (Ef. 5:20)? Ah! é neste ponto que o estado de nossas almas é muitas vezes posto à prova. Infelizmente, há tanta vontade própria em cada um de nós. Quando as coisas correm como desejamos, parecemos estar muito gratos a Deus; mas e aquelas ocasiões em que as coisas vão contra nossos planos e desejos?

Nós damos como certo quando o verdadeiro cristão faz uma viagem que, ao chegar ao seu destino, ele devotamente dará graças a Deus – o que, é claro, argumenta que Ele controla tudo; caso contrário, devemos agradecer ao maquinista, ao piloto ou ao comandante da aeronave, aos sinalizadores, e etc... pressentes - que é sua soberania exaustiva e absoluta, que direciona todos os clientes para sua loja ou comercio!!! Até agora tudo bem. Tais exemplos não ocasionam nenhuma dificuldade. Mas imagine os opostos. Suponha que meu trem estivesse atrasado por horas, eu me preocupei e murmurei; suponha que outro trem colida com ele e eu estivesse ferido!!!

Ou, suponha que eu tenha tido uma semana ruim nos negócios, ou que um raio atingiu minha loja e a incendiou, ou que ladrões arrombaram e saquearam, então o que vejo? a mão de Deus nessas coisas? Tomemos o caso de Jó mais uma vez. Quando perda após perda veio em seu caminho, o que ele fez? Lamentar sua "má sorte"? Amaldiçoar os ladrões? Murmurar contra Deus? Não; ele se curvou diante dele em adoração. Ah! caro leitor, não há descanso real para o seu pobre coração até que você aprenda a ver a mão de Deus em tudo. Mas para isso, a fé deve estar em constante exercício. E o que é fé? Uma credulidade cega? Uma aquiescência fatalista? Não, longe disso. A fé é um descanso na segura Palavra do Deus vivo e, portanto, diz: "Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm. 8:28); e, portanto, a fé dará graças "sempre por todas as coisas". A fé operativa.

Voltamo-nos agora para assinalar como este reconhecimento da Soberania de Deus, que se expressa em temor piedoso, obediência implícita, resignação total e profunda gratidão e alegria, foi suprema e perfeitamente exemplificado pelo Senhor Jesus Cristo.

Em todas as coisas o Senhor Jesus nos deixou um exemplo de que devemos seguir Seus passos. Mas isso é verdade em relação ao primeiro ponto feito acima? As palavras "temor piedoso" estão sempre ligadas ao Seu nome inigualável?

Lembrando que "temor piedoso" não significa terror servil, mas sim submissão e reverência filial, e lembrando também que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria", não seria estranho se nenhuma menção fosse feita de "temor piedoso" em conexão com Aquele que era a sabedoria encarnada! Que palavra maravilhosa e preciosa é a de Hebreus 5:7 - "O qual, nos dias da sua carne, tendo oferecido orações e súplicas com forte clamor e lágrimas ao que podia salvá-lo da morte, O que foi, senão "temor piedoso" que fez com que o Senhor Jesus fosse "sujeito" a Maria e José nos dias de Sua infância? Foi "temor piedoso" - uma sujeição filial e reverência a Deus - que vemos demonstrado quando lemos "E veio a Nazaré, onde havia sido criado; e, como era seu costume, entrou na sinagoga no dia de sábado" (Lc. 4:16)? Não foi o "temor piedoso" que fez o Filho encarnado dizer, quando tentado por Satanás a prostrar-se e adorá-lo: "Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás"? Não foi o "temor piedoso" que   O moveu a dizer ao leproso curado: "Vai, mostra-te ao sacerdote," (Mt. 8:4)? Mas por que multiplicar ilustrações?

Quão perfeita foi a obediência que o Senhor Jesus ofereceu a Deus Pai! E, refletindo sobre isso, não percamos de vista aquela graça maravilhosa que fez com que Ele, que estava na própria forma de Deus, se rebaixasse a ponto de tomar sobre Ele a forma de Servo e assim ser levado ao lugar onde a obediência estava se aperfeiçoando. Como o Servo perfeito, Ele rendeu completa obediência ao Seu Pai. Quão absoluta e completa foi essa obediência, podemos aprender com as palavras que Ele "se fez obediente até a morte, sim, Observe como a profecia do Antigo Testamento também declarou que "o Espírito do Senhor" deve "repousar sobre Ele, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor" (Is. 11:2).

E sua dolorosa morte de CRUZ!!! Que esta foi uma obediência consciente e inteligente é claro em Sua própria linguagem: “Por isso meu Pai me ama, porque dou a minha vida para tomá-la novamente. Nenhum homem a tira de Mim, mas Eu a dou de Mim mesmo. Eu tenho poder para entregá-la e tenho poder para tomá-la de volta. Este mandamento recebi de meu Pai" (Jo. 10:17, 18).

E que diremos da resignação absoluta do Filho à vontade do Pai? o que, mas, entre eles havia inteira unidade de acordo. Ele disse: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo. 6:38), e quão plenamente Ele fundamentou essa afirmação todos sabem que seguiram atentamente o Seu caminho como assinalado nas Escrituras. Contemple-o no Getsêmani! O ‘cálice’ amargo, segura na mão do Pai, é apresentada à Sua vista. Marque bem Sua atitude. Aprender daquele que era manso e humilde de coração. Lembre-se que lá no Jardim vemos o Verbo se tornar carne, um Homem perfeito. Seu corpo estremece a cada nervo na contemplação dos sofrimentos físicos que o aguardam; Sua natureza santa e sensível está se retraindo das horríveis indignidades que serão lançadas sobre Ele; Seu coração está quebrando com a terrível "reprovação" que está diante dEle; Seu espírito está muito perturbado ao prever o terrível conflito com o Poder das Trevas; e acima de tudo, e supremamente, Sua alma está cheia de horror com o pensamento de ser separado do próprio Deus - assim e ali Ele derrama Sua alma ao Pai, e com forte clamor e lágrimas Ele derrama, por assim dizer, grandes gotas de sangue. E agora observe e ouça. Acalme as batidas do seu coração e ouça as palavras que saem de Seus lábios abençoados...

Se quiseres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc. 22:42). Aqui está a submissão personificada. Aqui está a resignação ao prazer de um Deus Exaustivamente Soberano; superlativamente exemplificado. para nós um exemplo de que devemos seguir Seus passos. Aquele que era Deus se fez homem, e foi tentado em todos os pontos como nós, sem pecado, para nos mostrar como usar nossa natureza de criatura!!!

Acima perguntamos: O que diremos da absoluta resignação de Cristo à vontade do Pai? Respondemos ainda: Isto, que aqui, como em todos os lugares, Ele era único e inigualável. Em todas as coisas Ele tem a preeminência. No Senhor Jesus não havia vontade rebelde a ser quebrada. Em Seu coração não havia nada a ser subjugado. Não foi esta uma razão pela qual, na linguagem da profecia, Ele disse: "Eu sou um verme, e não homem" (Sl. 22:6) - um verme não tem poder de resistência! Foi porque Nele não havia resistência que Ele poderia dizer: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou" (Jo. 4:34). Sim, foi porque Ele estava em perfeito acordo com o Pai em todas as coisas que Ele disse: "Tenho prazer em fazer a Tua vontade, ó Deus; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração" (Sl. 40:8). Observe a última cláusula aqui e contemple Sua excelência incomparável. Deus tem que colocar Suas leis em nossas mentes e escrevê-las em nossos corações (veja Hb. 8: 10), mas Sua lei já estava no coração de Cristo!!!

Que bela e impressionante ilustração da gratidão e alegria de Cristo é encontrada em Mateus 11. Ali vemos, primeiro, o fracasso da fé de Seu precursor (vv. 22, 23). A seguir, ficamos sabendo do descontentamento do povo; não satisfeito nem com a alegre mensagem de Cristo, nem com a solene de João (vv. 16-20). Terceiro, temos o não arrependimento daquelas cidades favorecidas nas quais as obras mais poderosas de nosso Senhor foram feitas (vv. 21-24). E então lemos:

"Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos" (v. 25)!!! Observe a passagem paralela em Lucas 10:21 começa dizendo: "regozijou -se em espírito e disse: Graças te dou, etc... Ah! aqui estava a submissão em sua forma mais pura; Aqui estava Alguém por quem os mundos foram feitos, ainda, nos dias de Sua humilhação e em face de Sua rejeição, curvando-se com gratidão e alegria à vontade do "Senhor do céu e da terra".

Qual deve ser nossa atitude para com a Soberania Exaustiva e Absoluta de Deus finalmente?

5. Uma atitude de adoração genuína e profunda. Foi bem  dito que "a verdadeira adoração é baseada n reconhecimento da SOBERANIA EXAUSTIVA E ABSOLUTA DE DEUS, e esta grandeza é vista superlativamente na Soberania, e em nenhum outro escabelo os homens realmente adorarão" (JB Moody). Na presença do Rei Divino em Seu trono até os serafins 'velam seus rostos'. A Soberania Divina não é a Soberania de um déspota tirânico, mas o prazer exercido de alguém que é infinitamente sábio e bom! Porque Deus é infinitamente sábio, Ele não pode errar, e porque Ele é infinitamente justo, Ele não cometerá erros. Aqui, então, está a preciosidade desta verdade. O simples fato de que a vontade de Deus é irresistível e irreversível me enche de medo, mas quando percebo que Deus quer apenas o que é bom, meu coração se alegra. Aqui, então, está a resposta final para a pergunta deste capítulo: Qual deve ser nossa atitude para com a Soberania de Deus? A atitude adequada que devemos tomar é a de temor piedoso, obediência implícita e resignação e submissão sem reservas. Mas não apenas isso, o reconhecimento da Soberania de Deus, e a percepção de que o Próprio Soberano é meu Pai, devem sobrecarregar-me o coração e fazer com que eu me prostre diante Dele em adoração em adoração plena e profunda.

Em todos os momentos devo dizer: “Ainda assim, Pai, porque assim parece bem aos Teus olhos.” Concluímos com um exemplo que ilustra bem nosso significado. Cerca de duzentos anos atrás, a santa Madame Cuyon, depois de dez anos passados ​​em uma masmorra bem abaixo da superfície do solo, iluminada apenas por uma vela na hora das refeições, escreveu estas palavras:

“Um passarinho eu sou, Fechado dos campos de ar; No entanto, na minha jaula eu sento e canto Àquele que me colocou lá; Bem satisfeita uma prisioneira ser, porque, meu Deus, isso Te agrada. Nada mais tenho a fazer, canto o dia inteiro; E aquele a quem mais gosto de agradar, ouve minha canção; Ele pegou e amarrou minha asa errante, mas mesmo assim Ele se inclina para me ouvir cantar. Minha gaiola me confina; no exterior não posso voar; mas embora minha asa esteja estreitamente ligada, meu coração está em liberdade, minhas paredes da prisão não podem controlar a fuga, a liberdade da alma. Ah! É bom subir Estes parafusos e barra acima, a Ele cujo propósito eu adoro, cuja Providência eu amo; E em Tua poderosa vontade encontrar a alegria, a liberdade da mente.”

 
Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Ao utilizar este texto! observe as normas acadêmicas, ou seja, cite o autor e o tradutor, bem como, o link de sua fonte original.

 

Nossa Oração e a Soberania de Deus.

Autor: Rev. Prof. Dr. A.W. Pink. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

"Se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve" (1Jo. 5:14).

Ao longo deste livro, nosso objetivo principal foi exaltar o Criador e rebaixar a criatura. A tendência quase universal agora é engrandecer o homem e desonrar e degradar a Deus. Por todos os lados, descobrir-se-á que, quando as coisas espirituais estão em discussão, o lado e o elemento humano são pressionados e enfatizados, e o lado divino, se não totalmente ignorado, é relegado a segundo plano. Isso se aplica a grande parte do ensino moderno sobre oração. Na grande maioria dos livros escritos e nos sermões pregados sobre a oração, o elemento humano preenche a cena quase inteiramente: são as condições que devemos cumprir, as promessas que devemos "reivindicar", as coisas que devemos fazer para termos nossos pedidos atendidos; e as reivindicações de Deus, Os direitos de Deus, a glória de Deus são desconsiderados.

Como um exemplo justo do que está sendo divulgado hoje, anexamos um breve editorial que apareceu recentemente em um dos principais semanários religiosos intitulado "Oração ou Destino?" "Deus em Sua Soberania ordenou que os destinos humanos possam ser mudados e moldados pela vontade do homem. Este é o cerne da verdade de que a oração muda as coisas, significando que Deus muda as coisas quando os homens oram. "Há certas coisas que acontecerão na vida de um homem se ele orar ou não. Há outras coisas que acontecerão se ele orar; e não acontecerão se ele não orar." Um obreiro cristão ficou impressionado com essas frases ao entrar em um escritório e orou para que o Senhor abrisse o caminho para falar com alguém sobre Cristo, refletindo que as coisas mudariam porque ele orava. A oração foi esquecida. Chegou a oportunidade de falar com o homem de negócios a quem ele estava chamando, mas ele não a agarrou, e estava saindo quando se lembrou de sua oração de meia hora antes e da resposta de Deus. Ele prontamente voltou e teve uma conversa com o homem de negócios, que, embora membro da igreja, nunca em sua vida foi perguntado se ele foi salvo. Vamos nos entregar à oração e abrir o caminho para Deus mudar as coisas. Tenhamos cuidado para não nos tornarmos virtualmente fatalistas ao deixar de exercer nossa vontade dada por Deus na oração."

O acima ilustra o que está sendo hereticamente ensinado (sobretudo, pelos pentecostais, neopentecostais, carismáticos católicos e outros grupos heréticos); sobre o assunto da oração, e o deplorável é que dificilmente uma voz se levanta em protesto. Dizer que "os destinos humanos podem ser mudados e moldados pela vontade do homem" é infidelidade absoluta - esse é o único termo adequado para isso. Se alguém contestar essa classificação, perguntaríamos se eles podem encontrar um infiel em qualquer lugar que discorde de tal declaração, e estamos confiantes de que tal não poderia ser encontrado.

Dizer que "Deus ordenou que os destinos humanos possam ser mudados e moldados pela vontade do homem" é absolutamente falso. O "destino humano" é estabelecido não pela vontade do homem, mas pela vontade de Deus. O que determina o destino humano é se um homem nasceu de novo ou não, pois está escrito: "A menos que um homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de Deus". E quanto à vontade de quem, seja de Deus ou do homem, é responsável pelo novo nascimento é estabelecido, inequivocamente, por João 1:13 - "Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas DE DEUS." Dizer que o "destino humano" pode ser mudado pela vontade do homem é tornar suprema a vontade da criatura, e isso é, virtualmente, destronar Deus. Mas o que dizem as Escrituras? Que o Livro responda: "O Senhor mata e vivifica: faz descer à sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece; abate e exalta. Ele levanta o pobre do pó, e do monturo levanta o mendigo, para colocá-lo entre os príncipes e fazê-lo herdar o trono de glória” (1 Sam. 2: 6-8).

 

Voltando ao Editorial aqui em revisão, somos informados a seguir: "Este é o cerne da verdade de que a oração muda as coisas, significando que Deus muda as coisas quando os homens oram". Em quase todos os lugares que vamos hoje, encontramos um cartão-lema com a inscrição "A oração muda as coisas". Quanto ao significado dessas palavras, é evidente na literatura atual sobre oração - devemos persuadir Deus a mudar Seu propósito. Sobre isso, teremos mais a dizer abaixo. Mais uma vez, o Editor nos diz: "Alguém expressou surpreendentemente desta forma: 'Há certas coisas que acontecerão na vida de um homem se ele orar ou não. Há outras coisas que acontecerão se ele orar, e não acontecerão se ele não orar.'”

Que as coisas aconteçam, quer um homem ore ou não, é exemplificado diariamente na vida dos não regenerados, a maioria dos quais nunca oram. Que 'outras coisas acontecerão se ele orar' precisa de qualificação. Se um crente orar com fé e pedir as coisas que estão de acordo com a vontade de Deus, ele certamente obterá o que pediu. Novamente, que outras coisas acontecerão se ele orar também é verdade em relação aos benefícios subjetivos derivados da oração:

Deus se tornará mais real para ele e Suas promessas mais preciosas. Que outras coisas ‘não acontecerão se ele não orar” é verdade no que diz respeito à sua própria vida – uma vida sem oração significa uma vida vivida fora da comunhão com Deus e tudo o que está envolvido nisso.

Mas afirmar que Deus não vai e não pode realizar Seu propósito eterno a menos que oremos é totalmente errôneo, pois o mesmo Deus que decretou o fim também decretou que Seu fim será alcançado por meio de Seus meios designados, e um deles é oração. O Deus que determinou conceder uma bênção também dá um espírito de súplica que primeiramente busca a bênção. Pois o mesmo Deus que decretou o fim também decretou que Seu fim será alcançado por meio de Seus meios designados, e um deles é a oração.

O exemplo citado no Editorial acima do trabalhador cristão e do homem de negócios é no mínimo muito infeliz, pois de acordo com os termos da ilustração a oração do trabalhador cristão não foi respondida por Deus, na medida em que, aparentemente, o caminho não estava aberto para falar com o homem de negócios sobre sua alma. Mas, ao sair do escritório e recordar sua oração, o obreiro cristão (talvez na energia da carne) decidiu responder à oração por si mesmo e, em vez de deixar que o Senhor "abrisse o caminho" para ele, tomou o assunto em suas próprias mãos.

Citamos a seguir um dos últimos livros publicados sobre Oração. Nela, o autor diz: "As possibilidades e a necessidade da oração, seu poder e resultados, manifestam-se em deter e mudar os propósitos de Deus e em aliviar o golpe de Seu poder". Uma afirmação como esta é uma horrível reflexão sobre o caráter do Deus Altíssimo, que "segundo a sua vontade, faz com o exército do céu e entre os habitantes da terra; e ninguém pode deter a sua mão, ou dizer-lhe, O que você faz?" (Dn. 4: 35). Não há necessidade alguma de Deus mudar Seus desígnios ou alterar Seu propósito pela razão bastante suficiente de que estes foram formulados sob a influência da perfeita bondade e sabedoria infalível. Os homens podem ter ocasião de alterar seus propósitos, pois, em sua miopia, frequentemente são incapazes de antecipar o que pode surgir depois que seus planos são formados. Mas não é assim com Deus, pois Ele conhece o fim desde o princípio. Afirmar que Deus muda Seu propósito é contestar Sua bondade ou negar Sua sabedoria eterna e soberana.

No mesmo livro nos é dito: “As orações dos santos de Deus são o capital no Céu pelo qual Cristo realiza Sua grande obra na terra. Revolucionados, os anjos se movem mais poderosos, com asas mais rápidas, e a política de Deus é moldada à medida que as orações são mais numerosas, mais eficientes”.

Se possível, isso é ainda pior, e não hesitamos em denominá-lo como blasfêmia. Em primeiro lugar, nega categoricamente Efésios 3:11, que fala de Deus ter um “propósito eterno”. Se o propósito de Deus é eterno, então Sua "política" não está sendo "formada" hoje. Em segundo lugar, que declara expressamente que Deus "faz todas as coisas segundo o conselho de Sua própria vontade", portanto, segue-se que "a política de Deus" não está sendo "formada" pelas orações dos homens. Em terceiro lugar, uma declaração como a acima torna suprema a vontade da criatura, pois se nossas orações moldam a política de Deus, então o Altíssimo está subordinado aos vermes da terra. Bem poderia o Espírito Santo perguntar através do Apóstolo: "Pois quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro?" (Rm. 11:34).

Tais pensamentos sobre a oração que temos citado são devidos a concepções baixas e inadequadas do próprio Deus. Deveria ser evidente que poderia haver pouco ou nenhum conforto em orar a um Deus que era como o camaleão, que muda de cor a cada dia. Que encorajamento há para elevar nossos corações para aquele que está em uma mente (uma forma, um propósito); ontem e outra hoje?

De que adiantaria fazer uma petição a um monarca terreno se soubéssemos que ele era tão mutável (instável como a nitroglicerina); a ponto de conceder uma petição um dia e explodir de raiva e negá-la no outro? Não é a própria imutabilidade de Deus que é nosso maior encorajamento para orar? É porque Ele é "sem variação ou sombra de variação", que temos a certeza de que, se pedirmos qualquer coisa de acordo com a Sua vontade, estaremos mais certos de ser atendidos. Bem observou Lutero: "A oração não é vencer a relutância de Deus, mas se apegar à Sua vontade."

E isso nos leva a oferecer algumas observações sobre o desígnio da oração. Por que Deus designou que devemos orar? A grande maioria das pessoas responderia: Para que possamos obter de Deus as coisas de que precisamos. Embora este seja um dos propósitos da oração, não é de forma alguma o principal. Além disso, considera a oração apenas do lado humano, e a oração, precisa necessariamente; ser vista do lado divino.

Vejamos, então, algumas das razões pelas quais Deus nos mandou orar.

Em primeiro lugar, a oração foi designada para que o próprio Senhor Deus seja honrado. Deus requer que reconheçamos que Ele é, de fato, "o Alto e Sublime que habita a eternidade" (Is. 57: 15). Deus requer que possuamos Seu domínio universal: ao pedir a Deus por chuva, Elias apenas confessou Seu controle sobre os elementos; ao orar a Deus para libertar um pobre pecador da ira vindoura, reconhecemos que "a salvação é do Senhor" (Jn. 2:9); ao suplicar Sua bênção sobre o Evangelho até os confins da terra, declaramos Seu governo sobre o mundo inteiro.

Novamente; Deus requer que O adoremos, e a oração, a oração real, é um ato de adoração. A oração é um ato de adoração na medida em que é a prostração da alma diante dEle; visto que é uma invocação de Seu grande e santo nome; na medida em que é a posse de Sua bondade, Seu poder, Sua imutabilidade, Sua graça, e na medida em que é o reconhecimento de Sua Soberania, propriedade de uma submissão à Sua vontade. É altamente significativo notar a este respeito que o Templo não foi denominado por Cristo a Casa do Sacrifício, mas sim a Casa de Oração.

Novamente; a oração redunda para a glória de Deus, pois na oração apenas reconhecemos a dependência dEle. Quando suplicamos humildemente ao Ser Divino, nos lançamos sobre Seu poder e misericórdia. Ao buscar as bênçãos de Deus, reconhecemos que Ele é o Autor e a Fonte de todo dom bom e perfeito. Que a oração traz glória a Deus é visto ainda pelo fato de que a oração chama a fé em exercício, e nada de nós é tão honroso e agradável a Ele quanto a confiança absoluta de nossos corações.

Em segundo lugar, a oração é designada por Deus para nossa bênção espiritual, como meio para nosso crescimento na graça. Ao procurar aprender o desígnio da oração, isso deve sempre nos ocupar antes de considerarmos a oração como um meio de obter o suprimento de nossas necessidades. A oração é projetada por Deus para nossa humilhação. A oração, a oração real, é uma vinda à Presença de Deus, e um senso profundo de Sua terrível, absoluta e exaustiva majestade (soberania); produz uma percepção de nossa nulidade e indignidade. Novamente; a oração é projetada por Deus para o exercício de nossa fé. A fé é gerada na Palavra (Rm. 10: 8), mas é exercida em oração; por isso, lemos sobre "a oração da fé". Novamente; chamadas de oração do amor em ação. Com relação ao hipócrita, a pergunta é feita: "Ele se deleitará no Todo-Poderoso?

Ele sempre invocará a Deus?" (Jó. 27:10). Mas aqueles que amam o Senhor não podem estar muito longe dEle, pois se deleitam em desabafar com Ele. Não só a oração é chamada de o amor em ação, mas através das respostas diretas concedidas às nossas orações, nosso amor a Deus aumenta - "Eu amo o Senhor, porque ele ouviu a minha voz e as minhas súplicas" (Sl. 116: 1). Novamente; a oração é projetada por Deus para nos ensinar o valor das bênçãos que buscamos dEle, e nos faz regozijar ainda mais quando Ele nos concede aquilo pelo qual Lhe suplicamos.

Terceiro, a oração é designada por Deus para buscarmos dEle as coisas de que necessitamos. Mas aqui uma dificuldade pode se apresentar àqueles que leram cuidadosamente os capítulos anteriores deste livro. Se Deus predestinou, antes da fundação do mundo, tudo o que acontece no tempo, para que serve a oração? Se é verdade que "Dele por Ele e para Ele são todas as coisas" (Rm. 11:30), então por que orarmos? Antes de responder diretamente a essas perguntas, deve-se salientar que há tantas razões para perguntar: Qual é a utilidade de eu ir a Deus e dizer a Ele o que Ele já sabe? Qual é a utilidade de eu espalhar diante dEle minha necessidade, visto que Ele já está familiarizado com isso? como há para objetar: Qual é a utilidade de orar por qualquer coisa quando tudo foi ordenado de antemão por Deus? A oração não tem o propósito de informar a Deus, como se Ele fosse ignorante (o Salvador declarou expressamente "porque vosso Pai sabe de que necessitais, antes que Lhe peçais" - Mt 6:8), mas é para reconhecer que Ele sabe do que precisamos. A oração não é designada para fornecer a Deus o conhecimento do que precisamos, mas é designada como uma confissão a Ele de nosso senso de necessidade. Nisto, como em tudo, os pensamentos de Deus não são como os nossos.

Deus requer que Seus dons sejam procurados. Ele deseja ser honrado pelo nosso pedido, assim como Ele deve ser agradecido por nós depois que Ele concedeu Sua bênção. No entanto, a pergunta ainda volta para nós, se Deus é o Predestinador de tudo o que acontece, e o Regulador de todos os eventos, então a oração não é um exercício inútil? Uma resposta suficiente a estas perguntas é que Deus nos ordena a orar: "Orai sem cessar" (1Tess. 5:17). E novamente, “os homens devem orar sempre” (Lc. 18:1). E mais: as Escrituras declaram que "a oração da fé salvará o enfermo", e "a oração fervorosa eficaz de um justo pode muito" (Tg. 5: 15, 16); enquanto o Senhor Jesus Cristo, nosso exemplo perfeito em todas as coisas, foi eminentemente um Homem de Oração. Assim, é evidente que a oração não é sem sentido nem sem valor. Mas isso ainda não remove a dificuldade nem responde à pergunta com a qual começamos. Qual é então a relação entre a Soberania de Deus e a oração cristã?

Em primeiro lugar, diríamos com ênfase, que a oração não tem a intenção de mudar o propósito de Deus, nem de movê-lo a formar novos propósitos. Deus decretou que certos eventos ocorrerão pelos meios que Ele designou para sua realização. Deus elegeu alguns para serem salvos, mas Ele também decretou que estes serão salvos por meio de a pregação do Evangelho. O Evangelho, então, é um dos meios designados para a execução do conselho eterno do Senhor; e a oração é outra. Deus decretou os meios e os fins, e entre os meios está a oração.

Até as orações de Seu povo estão incluídas em Seus decretos eternos. Portanto, em vez de orações serem em vão, elas estão entre os meios pelos quais Deus exerce Seus decretos. “Se, de fato, todas as coisas acontecem por um acaso cego ou por uma necessidade fatal, as orações nesse caso não podem ser de nenhuma eficácia moral e de nenhum uso; mas, como são reguladas pela direção da sabedoria divina, as orações têm um lugar na ordem. de eventos" (Haldane).

Que as orações para a execução das próprias coisas decretadas por Deus não são sem sentido é claramente ensinado nas Escrituras. Elias sabia que Deus estava prestes a dar chuva, mas isso não o impediu de se dirigir imediatamente à oração (Tg. 5: 17, 18). Daniel "compreendeu" pelos escritos dos profetas que o cativeiro duraria apenas setenta anos, mas quando esses setenta anos estavam quase terminados, somos informados de que ele voltou seu rosto "ao Senhor Deus, para buscá-lo com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza” (Dn. 9: 2, 3). Deus disse ao profeta Jeremias: "Pois eu sei os pensamentos que tenho para com você, diz o Senhor, pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhe o fim esperado"; mas em vez de acrescentar, não há, portanto, necessidade de você me suplicar por essas coisas, Ele disse:

"Então me invocareis, e ireis orar a mim, e eu vos ouvirei" (Jeremias 29: 11, 12).

Aqui, então, está o desígnio da oração: não que a vontade de Deus possa ser alterada, mas que possa ser realizada em Seu próprio tempo e maneira. É porque Deus prometeu certas coisas que podemos pedir por elas com plena certeza de fé. É propósito de Deus que Sua vontade seja realizada por Seus próprios meios designados, e que Ele possa fazer o bem ao Seu povo em Seus próprios termos, isto é, pelos 'meios' e 'termos' de súplicas e súplicas. O Filho de Deus não sabia com certeza que depois de Sua morte e ressurreição Ele seria exaltado pelo Pai? Seguramente Ele o sabia. No entanto, encontramos Ele pedindo esta mesma coisa: "Ó Pai, glorifica-me contigo mesmo com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse" (Jo. 17: 5)! Ele não sabia que nenhum de Seu povo (eleitos e eleitas); poderia perecer? ainda assim, Ele implorou ao Pai que os “guardasse” (Jo. 17: 11)!!!

Finalmente, deve-se dizer que a vontade de Deus é imutável e não pode ser alterada por nossos clamores. Quando a mente de Deus não está voltada para um povo para fazer-lhe o bem, não pode ser voltada para ele pela oração mais fervorosa e importuna daqueles que têm o maior interesse nEle: "Então me disse o Senhor: Ainda que Moisés e Samuel estava diante de mim, mas a minha mente não podia ser para este povo; lança-os fora da minha vista, e deixa-os sair” (Jer. 15: 1). As orações de Moisés para entrar na terra prometida são um caso paralelo. Nossos pontos de vista a respeito da oração precisam ser revistos e harmonizados com o ensino das Escrituras sobre o assunto. A ideia predominante parece ser que eu vou a Deus e Lhe peço algo que eu quero, e que espero que Ele me dê aquilo que pedi.

Mas esta é uma concepção muito desonrosa e degradante. A crença popular reduz Deus a um servo, nosso servo: cumprindo nossas ordens, realizando nosso prazer, concedendo nossos desejos. Não; a oração é uma vinda a Deus, dizendo a Ele minha necessidade, entregando meu caminho ao Senhor e deixando que Ele lide com isso como Lhe parecer melhor. Este torna minha vontade sujeita à Dele, em vez de, como no caso anterior, buscar submeter Sua vontade à minha. Nenhuma oração agrada a Deus a menos que o espírito que a atua "não seja faça-se a minha vontade, mas a Tua.” “Quando Deus concede bênçãos a um povo que ora, não é por causa de suas orações, como se Ele estivesse inclinado e desviado por eles; mas é por amor a Ele mesmo, e por Sua própria vontade e prazer Soberanos. Deve ser dito, para que propósito então é a oração? é respondido: Este é o caminho e o meio que Deus designou para a comunicação da bênção de Sua bondade ao Seu povo. Pois, embora Ele os tenha proposto, fornecido e prometido, ainda assim Ele será procurado para dá-los, e é um dever e privilégio pedir. Quando eles são abençoados com um espírito de oração, é um bom presságio, e parece que Deus pretendia conceder as coisas boas pedidas, que devem ser sempre pedidas com submissão à vontade de Deus, dizendo: Não a minha vontade, mas a tua seja feita".

A distinção mencionada acima é de grande importância prática para nossa paz de coração. Talvez a única coisa que exercite os cristãos mais do que qualquer outra coisa seja a oração não respondida. Eles pediram algo a Deus: até onde podem julgar, pediram com fé acreditando que receberiam o que suplicaram ao Senhor: e pediram com seriedade e repetidamente, mas a resposta não veio. O resultado é que, em muitos casos, a fé na eficácia da oração fica enfraquecida, até que a esperança dá lugar ao desespero e o desejo de orar é totalmente e esmagadoramente negligenciado. Não é assim?

Agora, surpreenderá nossos leitores quando dissermos que todas as verdadeiras orações de fé que já foram oferecidas a Deus foram respondidas? No entanto, afirmamos sem hesitação. Mas, ao dizer isso, devemos nos referir à nossa definição de oração. Vamos repeti-lo. A oração é uma vinda a Deus, dizendo a Ele minha necessidade (ou a necessidade de outros), entregando meu caminho ao Senhor e depois deixando que Ele lide com o caso como Lhe parecer melhor. Isso deixa Deus responder à oração da maneira que Ele achar melhor, e muitas vezes, Sua resposta pode ser o oposto do que seria mais aceitável para a carne; no entanto, se realmente DEIXAMOS nossa necessidade em Suas mãos, será Sua resposta, no entanto. Vejamos dois exemplos.

Em João 11 lemos sobre a doença de Lázaro. O Senhor o "amou", mas estava ausente de Betânia. As irmãs enviaram um mensageiro ao Senhor informando-O da condição de seu irmão. E observe particularmente como seu apelo foi formulado: “Senhor, eis que aquele a quem Tu amas está doente”. Isso foi tudo. Eles não pediram a Ele para curar Lázaro. Eles não pediram que Ele se apressasse imediatamente para Betânia. Eles simplesmente espalharam sua necessidade diante dele, entregaram o caso em Suas mãos e O deixaram agir como Ele julgasse melhor!

E qual foi a resposta de nosso Senhor? Ele respondeu ao seu apelo e respondeu ao seu pedido mudo? Certamente Ele o fez, embora não, talvez, da maneira que eles esperavam. Ele respondeu permanecendo “dois dias ainda no mesmo lugar onde estava” (Jo. 11), e permitindo que Lázaro morresse! Mas neste caso isso não foi tudo. Mais tarde, Ele viajou para Betânia e ressuscitou Lázaro dos mortos. Nosso propósito ao nos referirmos aqui a este caso é ilustrar a atitude apropriada para o crente tomar diante de Deus na hora da necessidade. O próximo exemplo enfatizará o método de Deus de responder ao Seu filho necessitado.

Abra 2 Coríntios 12. O apóstolo Paulo havia recebido um privilégio inédito. Ele havia sido transportado para o Paraíso. Seus ouvidos ouviram e seus olhos contemplaram o que nenhum outro mortal tinha ouvido ou visto deste lado da morte. A revelação maravilhosa foi mais do que o apóstolo poderia suportar. Ele corria o risco de ficar "inchado/arrogante" por sua experiência extraordinária. Portanto, um espinho na carne, o mensageiro de Satanás, foi enviado para esbofeteá-lo para que não fosse exaltado acima da medida. E o Apóstolo estende sua necessidade diante do Senhor; três vezes ele implora a Ele que este espinho na carne seja removido. Sua oração foi respondida?

Certamente sim, embora não da maneira que ele desejava. O "espinho" não foi removido, mas a graça foi dada para suportá-lo. (os nefastos hereges, pentecostais, neopentecostais e carismáticos católicos, odeiam esta verdade bíblica!!!); O fardo não foi retirado, mas a força foi concedida para carregá-lo; diferentemente do que prega as nefastas e pervertidas “teologias, pentecostais, neopentecostais e carismáticas católicas” o crente verdadeiro, (eleitos e eleitas); pode sim! sofrer nesta vida, porém, nada o separará do amor de DEUS.

Alguém objeta que é nosso privilégio fazer mais do que expor nossa necessidade diante de Deus? Somos lembrados de que Deus, por assim dizer, nos deu um cheque em branco e nos convidou a preenchê-lo? É dito que as promessas de Deus são todo-inclusivas, e que podemos pedir a Deus o que quisermos? Nesse caso, devemos chamar a atenção para o fato de que é necessário comparar Escritura com Escritura se quisermos aprender a mente plena de Deus sobre qualquer assunto, e que, ao fazer isso, descobrimos que Deus qualificou as promessas feitas às almas que oram; dizendo:

"Se pedirdes alguma coisa segundo a Sua vontade, Ele nos ouve" (1Jo. 5:14). A verdadeira oração é comunhão com Deus para que haja pensamentos comuns entre Sua mente e a nossa. O que é necessário é que Ele encha nossos corações com Seus pensamentos e então Seus desejos se tornarão nossos desejos fluindo de volta para Ele. Aqui, então, é o ponto de encontro entre a Soberania exaustiva de Deus e a oração cristã: Se pedirmos alguma coisa de acordo com Sua vontade, Ele nos ouve, e se não pedirmos, Ele não nos ouve; como diz o apóstolo Tiago:

“Pedi e não recebeis, porque pedis mal, para que o consumais em vossas concupiscências ou desejos” (4:3).

Mas o Senhor Jesus não disse a Seus discípulos: "Em verdade, em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá" (Jo. 16:23)? Ele o fez; mas esta promessa não dá carta branca às almas que oram. Estas palavras de nosso Senhor estão em perfeita harmonia com as do Apóstolo João: "Se pedirdes alguma coisa segundo a Sua vontade, Ele nos ouve." O que é pedir "em nome de Cristo"? Certamente é muito mais do que uma fórmula de oração, a mera conclusão de nossas súplicas com as palavras "em nome de Cristo". Para aplicar a Deus para qualquer coisa em o nome de Cristo, deve necessariamente estar de acordo com o que Cristo é! Pedir a Deus em nome de Cristo é como se o próprio Cristo fosse o suplicante. Só podemos pedir a Deus o que Cristo pediria. Pedir em nome de Cristo é, portanto, deixar de lado nossas próprias vontades, aceitando a de Deus!

Vamos agora ampliar nossa definição de oração. O que é oração? A oração não é tanto um ato, mas uma atitude - uma atitude de dependência, dependência de Deus. A oração é uma confissão de fraqueza da criatura, sim, de desamparo. A oração é o reconhecimento de nossa necessidade e a divulgação dela diante de Deus. Não dizemos que isso é tudo que existe na oração, não é: mas é o essencial, o elemento primário na oração.

Admitimos livremente que somos incapazes de dar uma definição completa de oração dentro do compasso de uma breve frase, ou em qualquer número de palavras. A oração é ao mesmo tempo uma atitude e um ato, um ato humano e, no entanto, existe o elemento divino nela também, e é isso que torna uma análise exaustiva impossível, além de ímpia, se tentar. Mas admitindo isso, insistimos novamente que a oração é fundamentalmente uma atitude de dependência de Deus. Portanto, a oração é exatamente o oposto de ditar a Deus. Porque a oração é uma atitude de dependência, quem realmente ora é submisso, submisso à vontade divina; e submissão à vontade divina significa que nos contentamos com o Senhor suprir nossas necessidades de acordo com os ditames de Seu próprio prazer Soberano. E é por isso que dizemos que cada oração que é oferecida a Deus neste espírito certamente encontrará uma resposta dEle.

Aqui, então, está a resposta à nossa pergunta inicial e a solução bíblica para a aparente dificuldade. A oração não é o pedido de Deus para alterar Seu propósito ou para Ele formar um novo. A oração é a tomada de uma atitude de dependência de Deus, a expansão de nossa necessidade diante dEle, o pedido de coisas que estão de acordo com Sua vontade e, portanto, não há nada de inconsistente entre a Soberania Divina e a oração cristã.

Ao encerrar este capítulo, gostaríamos de proferir uma palavra de cautela para proteger o leitor contra tirar uma conclusão falsa do que foi dito. Não procuramos aqui sintetizar todo o ensino das Escrituras sobre o assunto da oração, nem mesmo tentamos discutir em geral o problema da oração; em vez disso, nos limitamos, mais ou menos, a uma consideração da relação entre a Soberania de Deus e a oração cristã. O que escrevemos pretende principalmente ser um protesto contra grande parte do ensino moderno, que enfatiza tanto o elemento humano na oração que o lado Divino é quase totalmente perdido de vista.

Em Jeremias 10:23 nos é dito "Não é do homem que caminha o dirigir os seus passos" (cf. Prov. 16:9); e, no entanto, em muitas de suas orações, o impulso do homem presume dirigir o Senhor quanto ao Seu caminho e quanto ao que Ele deve fazer; mesmo implicando que, se ele tivesse a direção dos assuntos do mundo e da igreja, logo têm coisas muito diferentes do que são. Isso não pode ser negado pois, qualquer pessoa com algum discernimento espiritual não poderia deixar de detectar esse espírito em muitas de nossas reuniões de oração modernas, onde a carne domina. Quão lentos todos nós somos para aprender a lição de que a criatura altiva precisa ser derrubada de joelhos e humilhada no pó. E é aqui que o próprio ato de oração pretende nos colocar.

Mas o homem (em sua costumeira perversidade) transforma o escabelo em um trono de onde ele gostaria de direcionar o Todo-Poderoso sobre o que Ele deveria fazer! dando ao espectador a impressão de que se Deus tivesse metade da compaixão que aqueles que oram (será mesmo que oram?) têm, tudo rapidamente estaria certo! Tal é a arrogância da velha natureza, (depravação total); mesmo em um filho de Deus.

Nosso objetivo principal neste capítulo foi enfatizar a necessidade de submeter, em oração, nossa vontade à de Deus. Mas também deve ser acrescentado que a oração é muito mais do que um exercício piedoso, e muito mais do que um desempenho mecânico. A oração é, de fato, um meio divinamente designado pelo qual podemos obter de Deus as coisas que pedimos, desde que peçamos as coisas que estão de acordo com Sua vontade. Essas páginas terão sido escritas em vão, a menos que levem tanto o escritor quanto o leitor a clamar com uma sinceridade mais profunda do que antes: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lc. 11:1).

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

Ao utilizar este texto! observe as normas acadêmicas, ou seja, cite o autor e o tradutor, bem como, o link de sua fonte original.

 

A Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana.

Autor: Rev. Prof. Dr. A.W. Pink. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

 "Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus" (Rom. 14: 12).

Em nosso último capítulo, consideramos com alguma extensão a tão debatida e difícil questão da vontade humana. Mostramos que a vontade do homem natural não é soberana nem livre, mas sim serva e escrava do pecado e do diabo. Temos argumentado que uma concepção correta da vontade do pecador - sua servidão - é essencial para uma justa estimativa de sua depravação e ruína. A total corrupção e degradação da natureza humana é algo que o homem odeia reconhecer, e que ele negará ardente e insistentemente até que seja “ensinado por Deus”. Muito, muito, da doutrina doentia que agora ouvimos por todos os lados é o resultado direto e lógico do repúdio do homem à estimativa expressa de Deus da depravação humana. Os homens estão alegando que eles estão "abastados de bens, e de nada precisam", e não sabem que são "miseráveis, ​​e desgraçados, e pobres, e cegos, e nus" (Ap. 3:17).

Eles tagarelam sobre a 'Ascensão do Homem' e negam sua Queda. Eles colocam as trevas pela luz e a luz pelas trevas. Eles se gabam do 'livre arbítrio moral' do homem quando, de fato, à sua vontade” (2Tim. 2:26). Mas se o homem natural não é um 'agente moral livre', segue-se também que ele não é responsável?

O "livre arbítrio moral" é uma expressão da invenção humana e, como dissemos antes, falar da liberdade do homem natural é repudiar categoricamente sua ruína espiritual. Em nenhum lugar a Escritura fala da liberdade ou capacidade moral do pecador, pelo contrário, insiste em sua incapacidade moral e espiritual. Este é, reconhecidamente, o ramo mais difícil de nosso assunto. Aqueles que já dedicaram muito estudo a este tema reconheceram uniformemente que a harmonização da Soberania de Deus com a Responsabilidade do Homem é o nó górdio da teologia.

A principal dificuldade encontrada é definir a relação entre a Soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Muitos eliminaram sumariamente a dificuldade negando sua existência. Uma certa classe de teólogos, em sua ansiedade de manter a responsabilidade do homem, a engrandeceu além de todas as devidas proporções até que a Soberania de Deus foi perdida de vista e, em não poucos casos, categoricamente negada. Outros reconheceram que as Escrituras apresentam tanto a Soberania de Deus quanto a responsabilidade do homem, mas afirmam que em nossa presente condição finita e com nosso conhecimento limitado é impossível reconciliar as duas verdades, embora seja dever do crente receber Ambas. O presente escritor acredita que tem sido muito prontamente assumido que as próprias Escrituras não revelam os vários pontos que mostram a conciliação da Soberania de Deus e a responsabilidade do homem.

Embora talvez a Palavra de Deus não esclareça todo o mistério (e isso é dito com reserva), ela lança muita luz sobre o problema, e parece-nos mais honroso para Deus e Sua Palavra pesquisar em oração as Escrituras para a solução mais completa da dificuldade, e embora outros tenham procurado em vão até agora, isso só deveria nos levar cada vez mais de joelhos. Deus se agradou de revelar muitas coisas de Sua Palavra durante o último século que estavam escondidas de estudantes anteriores. Quem se atreve a afirmar que ainda não há muito a aprender a respeito de nossa investigação!!!

Como dissemos acima, nossa principal dificuldade é determinar o ponto de encontro da Soberania de Deus e da responsabilidade do homem. Para muitos tem parecido que para Deus afirmar Sua Soberania, para Ele estender Seu poder e exercer uma influência direta sobre o homem, para Ele fazer algo mais do que advertir ou convidar, seria interferir na liberdade do homem, destruir sua responsabilidade e reduzi-lo a uma máquina. É realmente triste encontrar alguém como o falecido Dr. Pierson - cujos escritos são geralmente tão bíblicos e úteis - dizendo:

"É um pensamento tremendo que nem mesmo o próprio Deus pode controlar minha estrutura moral ou restringir minha escolha moral. Ele não pode impedir-me desafiando e negando, e não exerceria Seu poder em tais direções se Ele pudesse, e não poderia se Ele quisesse" ("A Spiritual Clinique"). É ainda mais triste descobrir que muitos outros irmãos respeitados e amados estão expressando os mesmos sentimentos. Triste e diretamente em desacordo com as Sagradas Escrituras.

É nosso desejo enfrentar honestamente as dificuldades envolvidas e examiná-las cuidadosamente sob a luz que Deus se agradou de nos conceder. As principais dificuldades podem ser expressas assim: primeiro, como é possível que Deus traga Seu poder sobre os homens para que eles sejam impedidos de fazer o que desejam fazer e impelidos a fazer outras coisas que não desejam fazer? e ainda preservar sua responsabilidade? Segundo, como o pecador pode ser responsabilizado por fazer o que ele é incapaz de fazer? E como ele pode ser justamente condenado por não fazer o que não podia fazer? Terceiro, como é possível para Deus decretar que os homens cometam certos pecados, responsabilizá-los por cometê-los e julgá-los culpados porque os cometeram? Quarto, como o pecador pode ser considerado responsável por receber a Cristo e ser condenado por rejeitá-lo, quando Deus o preordenou para a condenação? Vamos agora lidar com esses vários problemas na ordem acima. Que o próprio Espírito Santo seja nosso Mestre para que em Sua luz possamos ver a luz.

1. Como é possível que Deus traga Seu poder sobre os homens para que sejam IMPEDIDOS de fazer o que desejam fazer e IMPULSIONADOS a fazer outras coisas que não desejam fazer, e ainda assim preservar sua responsabilidade?

Parece que se Deus estendesse Seu poder e exercesse uma influência direta sobre os homens, sua liberdade seria interferida. Parece que se Deus fizesse algo mais do que advertir e convidar os homens, sua responsabilidade seria infringida. Dizem-nos que Deus não deve coagir o homem, muito menos compeli-lo, ou então ele seria reduzido a uma máquina. Isso soa muito plausível; parece ser uma boa filosofia e baseada em raciocínio sólido; foi quase universalmente aceito como um axioma da ética; no entanto, é refutado pelas Escrituras!!!

Voltemo-nos primeiro para Gênesis 20:6: "E Deus lhe disse em sonhos: Sim, sei que fizeste isso na integridade do teu coração; porque também eu te impedi de pecar contra mim; por isso não te permiti tocá-la." Argumenta-se, quase universalmente, que Deus não deve interferir na liberdade do homem, que ele não deve coagi-lo ou compeli-lo, para que não seja reduzido a uma máquina. Mas a Escritura acima prova, inequivocamente, que não é impossível para Deus exercer Seu poder sobre o homem sem destruir sua responsabilidade. Aqui está um caso em que Deus exerceu Seu poder, restringiu a liberdade do homem e impediu ele de fazer o que ele teria feito de outra forma.

Antes de nos afastarmos dessa Escritura, observemos como ela esclarece o caso do primeiro homem. Pretensos filósofos que buscaram ser sábios acima do que foi escrito argumentaram que Deus não poderia ter evitado a queda de Adão sem reduzi-lo a um mero autômato. Eles nos dizem, constantemente, que Deus não deve coagir ou compelir Suas criaturas, caso contrário, Ele destruiria sua responsabilidade. Mas a resposta a todas essas filosofias é que as Escrituras registram vários casos em que nos é expressamente dito que Deus impediu algumas de Suas criaturas de pecar tanto contra Ele quanto contra Seu povo, em vista do que todos os raciocínios dos homens são totalmente inúteis.

Se Deus pôde "reter" Abimeleque de pecar contra Ele, então por que Ele não pôde fazer o mesmo com Adam? Alguém deveria perguntar: Então, por que Deus não fez isso? podemos retornar à pergunta perguntando: Por que Deus não "reteve" Satanás de cair? ou, por que Deus não "reteve" o Kaiser de iniciar a guerra? A resposta usual é, como dissemos, Deus não poderia sem interferir na "liberdade" do homem e reduzi-lo a uma máquina. Mas o caso de Abimeleque prova conclusivamente que tal resposta é insustentável e errônea - poderíamos acrescentar perversos e blasfemos, pois quem somos nós para limitar o Altíssimo! Como ousa qualquer criatura finita assumir a responsabilidade de dizer o que o Todo-Poderoso pode e não pode fazer?

Devemos ser pressionados ainda mais sobre por que Deus se recusou a exercer Seu poder e impedir a queda de Adão, devemos dizer: Porque a queda de Adão serviu melhor ao Seu próprio propósito sábio e abençoado - entre outras coisas, proporcionou uma oportunidade de demonstrar que onde o pecado abundou a graça poderia muito mais abundar. Mas podemos perguntar mais: Por que Deus colocou no jardim a árvore do conhecimento do bem e do mal quando Ele previu que o homem iria desobedecer a Sua proibição e comer dela; para notar, foi Deus e não Satanás quem fez aquela árvore. Alguém deveria responder: Então Deus é o Autor do Pecado? Teríamos que perguntar, por sua vez, O que se entende por "Autor"?

Claramente era a vontade de Deus que o pecado entrasse neste mundo, caso contrário não entraria, pois nada acontece a não ser como Deus decretou eternamente. Além disso, havia mais do que uma simples permissão, pois Deus só permite aquilo que Ele propôs. Mas deixamos agora a origem do pecado, insistindo mais uma vez, porém, que Deus poderia ter "retido" Adão de pecar sem destruir sua responsabilidade.

O caso de Abimeleque não é isolado. Outra ilustração do mesmo princípio é vista na história de Balaão, já observada no último capítulo, mas sobre a qual uma palavra adicional está em vigor. Balaque, o moabita, mandou chamar este profeta pagão para “amaldiçoar” Israel. Uma bela recompensa foi oferecida por seus serviços, e uma leitura cuidadosa de Números 22-24 mostrará que Balaão estava disposto, sim, ansioso, a aceitar a oferta de Balaque e assim pecar contra Deus e Seu povo. Mas o poder divino o "reteve". Marque sua própria admissão: "E Balaão disse a Balaque: Eis que vim a ti; tenho eu agora algum poder para dizer alguma coisa? A palavra que Deus puser em minha boca, essa falarei" (Nm. 22: 38). Novamente, depois de Balaque ter reclamado com Balaão, lemos: "Ele respondeu e disse: Não devo atentar para falar o que o Senhor pôs em minha boca? e não posso reverter isso" (Nm. 23:12, 20). Certamente esses versículos nos mostram o poder de Deus e a impotência de Balaão: a vontade do homem frustrada e a vontade de Deus realizada. Mas a "liberdade" ou responsabilidade de Balaão foi destruída? Certamente não, como ainda procuraremos mostrar.

Mais uma ilustração: "E caiu o temor do SENHOR sobre todos os reinos das terras que estavam ao redor de Judá, de modo   que não fizeram guerra contra Jeosafá" (2Cro. 17: 10). A implicação aqui é clara. Se o "temor do Senhor" não tivesse caído sobre esses reinos, eles teriam feito guerra contra Judá. Somente o poder restritivo de Deus os impediu. Se sua própria vontade tivesse sido autorizada a agir "guerra" teria sido a consequência. Assim, vemos que as Escrituras ensinam que Deus "retém" nações, bem como indivíduos, e que quando Lhe agrada fazê-lo, Ele interpõe e impede a guerra. Compare mais (Gênesis 35:5).

A questão que agora exige nossa consideração é: como é possível que Deus "retenha" os homens de pecar e ainda assim não interferir em sua liberdade e responsabilidade - uma questão que muitos dizem ser incapaz de solução em nossa presente condição finita. Essa pergunta nos leva a perguntar: Em que consiste a "liberdade moral", a verdadeira liberdade moral? Nós respondemos, é o ser liberto da escravidão do pecado. Quanto mais qualquer alma é emancipada da escravidão do pecado, mais ela entra em um estado de liberdade - "Se o Filho, pois, vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8:36). Nos casos acima, Deus “reteve” Abimeleque, Balaão e os reinos pagãos de pecar, e, portanto, afirmamos que Ele não interferiu de forma alguma com sua real liberdade. Quanto mais uma alma se aproxima da impecabilidade, mais ela se aproxima da santidade de Deus. As Escrituras nos dizem que Deus "não pode mentir" e que Ele "não pode ser tentado", mas Ele é menos livre porque não pode fazer o que é mau? Certamente não. Então não é evidente que quanto mais o homem é elevado a Deus, e quanto mais ele é "retido" de pecar, maior é sua verdadeira liberdade!

Um exemplo pertinente que estabelece o ponto de encontro da Soberania de Deus e da responsabilidade do homem, no que se refere à questão da liberdade moral, é encontrado em relação à entrega das Sagradas Escrituras. Na comunicação de Sua Palavra Deus se agradou de empregar instrumentos humanos, e ao usá-los Ele não os reduziu a meros amanuenses mecânicos: “Sabendo primeiro isto, que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação (grego: de sua própria origem). Pois a profecia nunca veio por vontade de homem algum, mas homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:20, 21). Aqui temos a responsabilidade do homem e a Soberania de Deus são colocadas em justaposição.

Esses homens santos foram "movidos" (grego: "levados") pelo Espírito Santo, mas não foi sua responsabilidade moral perturbada nem sua "liberdade" prejudicada. Deus iluminou suas mentes, acendeu seus corações, revelou-lhes Sua verdade, e os controlou de tal maneira que o erro de sua parte foi, por Ele, tornado impossível, ao comunicar Sua mente e vontade aos homens. Mas o que poderia ter causado, teria causado erro, não tivesse Deus controlado como Ele fez os instrumentos que Ele empregou? A resposta é PECADO, o pecado que estava neles. Mas, como vimos, a contenção do pecado, a prevenção do exercício da mente carnal nesses "homens santos" de sua "liberdade", antes era a indução deles à liberdade real.

Uma palavra final deve ser acrescentada aqui sobre a natureza da verdadeira liberdade. Há três coisas principais sobre as quais os homens em geral erram muito: miséria e felicidade, loucura e sabedoria, escravidão e liberdade. O mundo não considera miseráveis ​​senão os aflitos, e nenhum feliz senão os prósperos, porque julgam pela facilidade presente da carne. Novamente; o mundo se agrada com uma falsa demonstração de sabedoria (que é "loucura" para Deus), negligenciando aquilo que torna sábio para a salvação. Quanto à liberdade, os homens estariam à sua disposição e viveriam como bem entendessem. Eles supõem que a única liberdade verdadeira é não estar sob o comando e sob o controle de ninguém acima de si mesmos, e viver de acordo com o desejo de seu coração.

Mas esta é uma escravidão e escravidão da pior espécie. A verdadeira liberdade não é o poder de viver como queremos, mas viver como devemos! Portanto, o único que já pisou nesta terra desde a queda de Adão que desfrutou de perfeita liberdade foi o Homem Cristo Jesus, o Santo Servo de Deus, cujo alimento sempre foi fazer a vontade do Pai.

Passamos agora a considerar a questão.

2. Como o pecador pode ser responsabilizado POR fazer o que ele não pode fazer? E como ele pode ser justamente condenado por NÃO FAZER o que NÃO PODERIA fazer?

Como criatura, o homem natural é responsável por amar, obedecer e servir a Deus; como pecador, ele é responsável por se arrepender e crer no Evangelho. Mas logo de início somos confrontados com o fato de que o homem natural é incapaz de amar e servir a Deus, e que o pecador, por si mesmo, não pode se arrepender e crer. Primeiro, vamos provar o que acabamos de dizer. Começamos citando e considerando João 6:44: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer.” O coração do homem natural (todo homem); é tão “desesperadamente perverso” que se ele for deixado a si mesmo, ele nunca “virá a Cristo”. Esta afirmação não seria questionada se a força total das palavras "vir a Cristo" fosse apreendida corretamente. Portanto, vamos divagar um pouco neste ponto para definir e considerar o que está implícito e envolvido nas palavras "Ninguém pode vir a mim "-cf. João 5:40, "vós não quereis vir a mim, para que tenhais vida."

Para o pecador vir a Cristo para que ele possa ter vida é para ele perceber o terrível perigo de sua situação; é para ele ver que a espada da justiça divina está suspensa sobre sua cabeça; é despertar para o fato de que há apenas um passo entre ele e a morte, e que depois da morte vem o "julgamento"; e em consequência desta descoberta, é para ele estar realmente empenhado em escapar, e com tanta seriedade que ele deve fugir da ira vindoura, clamar a Deus por misericórdia e agonizar para entrar pela "porta estreita".

Vir a Cristo para a vida é para o pecador sentir e reconhecer que ele é totalmente destituído de qualquer reivindicação sobre o favor de Deus; é ver-se "sem forças", perdido e desfeito; é admitir que ele não merece nada além da morte eterna, tomando assim o lado de Deus contra si mesmo; cabe a ele se lançar no pó diante de Deus e em humildemente pedir misericórdia divina.

Vir a Cristo para a vida é para o pecador abandonar sua própria justiça e estar pronto para ser feito justiça de Deus em Cristo; é negar sua própria sabedoria e ser guiado pela Sua; é repudiar sua própria vontade e ser governado pela Dele; é receber sem reservas o Senhor Jesus como seu Senhor e Salvador, como seu Tudo em todos.

Tal, em parte e em resumo, é o que está implícito e envolvido em “vir a Cristo”. Mas o pecador está disposto a tomar tal atitude diante de Deus? Não; pois, em primeiro lugar, ele não percebe o perigo de sua situação e, em consequência, não está realmente sério após sua fuga; em vez disso, os homens estão na maior parte à vontade, e à parte das operações do Espírito Santo sempre que estão perturbados pelos alarmes da consciência ou pelas dispensações da providência, eles fogem para qualquer outro refúgio que não seja Cristo. Em segundo lugar, eles não reconhecerão que todas as suas justiças são como trapos de imundícia, mas, como o fariseu, agradecerão a Deus por não serem como o publicano. E em terceiro lugar, eles não estão prontos para receber a Cristo como seu Senhor e Salvador, pois não estão dispostos a se separar de seus ídolos; eles preferiram arriscar o bem-estar eterno de suas almas do que abandoná-los. Por isso dizemos que, entregue a si mesmo, o homem natural é tão depravado de coração que não pode vir a Cristo.

As palavras de nosso Senhor citadas acima não estão sozinhas. Um grande número de Escrituras apresenta a incapacidade moral e espiritual do homem natural. Em Josué 24:19 lemos: "E Josué disse ao povo: Não podeis servir ao Senhor, porque Ele é um Deus santo."

Aos fariseus, Cristo disse: "Por que não entendeis a minha palavra? Mesmo porque não podeis ouvir a minha palavra" (João 8:43). E novamente: "A inclinação da carne é inimizade contra Deus; porque não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Assim, os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rom. 8: 7, 8).

Mas agora a pergunta retorna: Como Deus pode responsabilizar o pecador por deixar de fazer o que ele é incapaz de fazer? Isso exige uma definição cuidadosa dos termos. O que se entende por "incapaz" e "não pode"?

Agora fique bem entendido que quando falamos da incapacidade do pecador, não queremos dizer que, se os homens desejassem vir a Cristo, falta-lhes o poder necessário para realizar seu desejo. Não; o fato é que a própria incapacidade ou ausência de poder do pecador se deve à falta de disposição de vir a Cristo, e essa falta de disposição é fruto de um coração 100% depravado. É de primeira importância distinguir entre incapacidade natural e incapacidade moral e espiritual. Por exemplo, lemos: "Mas Aías, não podia ver, porque os seus olhos estavam fixos por causa da sua idade" (1Reis 14:4); e novamente: "Os homens remaram muito para trazê-lo para a terra, mas não puderam:

Porque o mar se agitou e se fez tempestuoso contra eles" (Jn. 1:13). Em ambas as passagens as palavras "não podia" referem-se à incapacidade natural. Mas quando lemos: "E quando seus irmãos viram que seu pai o amava (José) mais do que todos os seus irmãos, eles o odiaram, e não podiam falar com ele pacificamente" (Gn. 37:4), é claramente incapacidade moral que está em vista. Eles não careciam da habilidade natural de “falar pacificamente com ele”, pois não eram mudos. Por que, então, eles "não podiam falar pacificamente com ele"? A resposta é dada no mesmo versículo: foi porque "eles o odiavam". Novamente; em 2 Pedro 2:14 lemos sobre uma certa classe de homens ímpios “tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis ​​no pecado”. Aqui, novamente, é a incapacidade moral que está em vista. Por que esses homens "não podem deixar de pecar"? A resposta é: porque seus olhos estavam cheios de adultério. Assim, de Romanos 8:8 - "Os que estão na carne não podem agradar a Deus": aqui está a incapacidade espiritual. Por que o homem natural "não pode agradar a Deus"? Porque ele é sego, mudo e surdo para as coisas de Deus" (Ef. 4:18). Nenhum homem pode escolher aquilo de que seu coração é avesso - "Ó geração de víboras, como podeis vós, sendo maus, falar coisas boas?" (Mat. 12:34). "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer" (Jo 6:44).

Aqui, novamente, é a incapacidade moral e espiritual que está diante de nós. Por que o pecador não pode vir a Cristo a menos que seja "atraído"? A resposta é: porque seu coração perverso ama o pecado e odeia a Cristo. Acreditamos que deixamos claro que as Escrituras distinguem claramente entre habilidade natural e incapacidade moral e espiritual. Certamente todos podem ver a diferença entre a cegueira de Bartimeu, que desejava ardentemente receber sua visão, e os fariseus, cujos olhos estavam fechados "para que não vissem com os olhos, e ouvissem com os ouvidos, e entendessem com o coração, e se convertam" (Mt. 13:15). Mas se for dito: "O homem natural poderia vir a Cristo se assim o desejasse", respondemos: Ah! mas nessa inferência está a problemática de toda a questão. A incapacidade do pecador consiste na falta de poder DIVINO para desejar e querer, para só então e realmente; realizar o que se quer!!!

O que defendemos acima é de primeira importância; sobre a distinção entre a capacidade natural do pecador e sua incapacidade moral e espiritual repousa sua responsabilidade. A depravação total, do coração humano não destrói a responsabilidade do homem para com Deus; longe de ser esse o caso, a própria incapacidade moral do pecador serve apenas para aumentar sua culpa.

Isso é facilmente comprovado por uma referência às Escrituras citadas acima. Lemos que os irmãos de José "não podiam falar com ele pacificamente", e por quê? Era porque eles o "odiavam". Mas essa incapacidade moral deles era uma desculpa? Certamente não, nessa mesma incapacidade moral consistia a grandeza de seu pecado; Assim, daqueles a respeito de quem se diz: "Eles não podem deixar de pecar" e porquê? Porque "seus olhos estavam cheios de adultério", mas isso só piorou o caso. Era um fato real que eles não podiam deixar de pecar, mas isso não os desculpava - apenas tornava seu pecado ainda maior.

Se algum pecador aqui objetar, não posso deixar de nascer neste mundo com um coração depravado e, portanto, não sou responsável por minha incapacidade moral e espiritual que deriva dele, a resposta seria: Responsabilidade e Culpa Ele na indulgência dos depravados propensões, a livre indulgência, pois Deus não força ninguém a pecar. Os homens podem ter pena de mim, mas certamente não me desculpariam se eu desse vazão a um temperamento impetuoso e depois procurasse me atenuar com o fundamento de ter herdado esse temperamento dos meus pais. Seu próprio bom senso é suficiente para orientar seu julgamento em um caso como este. Eles argumentariam que eu era responsável por conter meu temperamento.

Por que então criticar esse mesmo princípio no caso suposto acima? "Pela tua boca te julgarei servo mau" certamente se aplica aqui! O que o leitor diria a um homem que o roubou e que mais tarde argumentou em defesa: "Não posso deixar de ser um ladrão, essa é a minha natureza"? Certamente a resposta seria: Então a penitenciária é o lugar apropriado para aquele homem. O que então deve ser dito para aquele que argumenta que ele não pode deixar de seguir a inclinação de seu coração pecaminoso? Certamente, que o Lago de Fogo é onde tal pessoa deve ir. Alguma vez um assassino alegou que odiava tanto sua vítima que não podia chegar perto dele sem matá-lo. Isso não apenas aumentaria a enormidade de seu crime! Então, o que dizer daquele que ama tanto o pecado que está em "inimizade contra Deus"!

O fato da responsabilidade do homem é quase universalmente reconhecido. É inerente à natureza moral do homem. Não é apenas ensinado nas Escrituras, mas testemunhado pela consciência natural. A base ou fundamento da responsabilidade humana é a capacidade humana. O que está implícito por este termo geral "habilidade" deve agora ser definido. Talvez um exemplo concreto seja mais facilmente compreendido pelo leitor médio do que um argumento abstrato.

Suponha que um homem me devesse 100 reais, e pudesse encontrar bastante dinheiro para seus próprios prazeres, mas nenhum para mim, mas alegasse que não podia me pagar. O que eu diria? Eu diria que a única habilidade que faltava era um coração honesto. Mas não seria uma construção injusta de minhas palavras se um amigo de meu devedor desonesto dissesse que eu havia declarado que um coração honesto era o que constituía a capacidade de pagar a dívida?

Não; Eu responderia: a capacidade do meu devedor está no poder de sua mão para me passar um cheque, e isso ele tem, mas o que falta é um princípio básico; honestidade. É o poder dele de me passar um cheque que o torna responsável por fazê-lo, e o fato de ele não ter um coração honesto (regenerado); não destrói sua responsabilidade.

Agora, da mesma maneira, o pecador, embora totalmente desprovido de capacidade moral e espiritual, possui, no entanto, capacidade natural, e é isso que o torna responsável perante Deus. Os homens têm as mesmas faculdades naturais para amar a Deus como têm para odiá-lo, os mesmos corações para crer e não crer, e é sua falha em amar e crer que constitui sua culpa. Um idiota ou uma criança não é pessoalmente responsável perante Deus, porque carece de habilidade natural. Mas o homem normal dotado de racionalidade, dotado de consciência, que é capaz de distinguir entre o certo e o errado, que é capaz de ponderar questões eternas É um ser responsável, e é porque ele possui essas mesmas faculdades que ele ainda terá que "dar contas de si mesmo a Deus" (Rm. 14:12).

Dizemos novamente que a distinção acima entre a capacidade natural e a incapacidade moral e espiritual do pecador (depravação total); é de primordial importância. Por natureza, ele possui habilidade natural, mas carece de habilidade DIVINA, ou seja, espiritual. O fato de ele não possuir o último não destrói sua responsabilidade, porque sua responsabilidade repousa sobre o fato de ele possuir o primeiro. Deixe-me ilustrar novamente. Aqui estão dois homens culpados de roubo: o primeiro é um idiota, (desprovido de capacidade intelectual); o segundo perfeitamente são, mas filho de pais criminosos. Nenhum juiz justo condenaria o primeiro; mas todo juiz sensato faria o último pagar por seus atos!!! Embora o segundo desses ladrões possuísse uma natureza moral viciada herdada de pais criminosos que não a desculpa, desde que ele fosse um ser intelectualmente-racional. Aqui, então, está a base da responsabilidade humana – a posse da racionalidade mais o dom da consciência. É porque o pecador é dotado dessas faculdades naturais que ele é uma criatura responsável; porque ele não usa seus poderes naturais para a glória de Deus, constitui sua culpa.

Como pode permanecer consistente com Sua misericórdia que Deus exija a dívida de obediência daquele que não pode pagar? Além do que foi dito acima, deve-se salientar que Deus não perdeu Seu direito, embora o homem tenha perdido seu poder. A impotência da criatura não cancela sua obrigação. Um servo bêbado ainda é um servo, e é contrário a todo raciocínio sensato argumentar que seu senhor perde seus direitos devido à falta de seu servo. Além disso, é de primeira importância que tenhamos sempre em mente que Deus contratou conosco em Adão, que era nosso chefe e representante federal, e nele Deus nos deu um poder que perdemos com a queda de nossos primeiros pais; mas, embora nosso poder tenha desaparecido, Deus pode exigir com justiça a obediência e o serviço que lhe são devidos.

Passamos agora a refletir:

3. Como é possível para Deus DECRETAR de forma obrigatória, que os homens DEVEM cometer certos pecados, (o pecado original é um destes decretos!!!); e ainda assim, considerá-los RESPONSÁVEIS por cometê-los e julgá-los CULPADOS porque os cometeram???

Consideremos agora o caso extremo de Judas. Acreditamos que está claro nas Escrituras que Deus decretou desde toda a eternidade que Judas deveria trair o Senhor Jesus. Se alguém desafiar esta afirmação, nós o referimos à profecia de Zacarias por meio de quem Deus declarou que Seu Filho deveria ser vendido por "trinta moedas de prata" (Zc. 11: 12). Como dissemos em páginas anteriores, na profecia Deus dá a conhecer o que será, e ao dar a conhecer o que será Ele está apenas revelando-nos o que Ele ordenou que seja. Que Judas foi aquele por meio de quem a profecia de Zacarias foi cumprida não precisa ser argumentado. Mas agora a questão que temos que enfrentar é, Judas foi um agente responsável em cumprir este decreto de Deus? Respondemos que um sim. A responsabilidade está ligada principalmente ao motivo e à intenção de quem comete o ato. Isso é reconhecido por todos os lados e ponto final.

A lei humana distingue entre um golpe infligido por acidente (sem intenção maligna) e um golpe dado com 'malícia premeditada'. Aplique então este mesmo princípio ao caso de Judas. Qual era o desígnio de seu coração quando barganhou com os sacerdotes? Manifestamente, ele não tinha nenhum desejo consciente de cumprir qualquer decreto de Deus, embora sem saber que ele estava realmente fazendo isso. Pelo contrário, sua intenção era apenas má e, portanto, embora Deus tivesse decretado e dirigido seu ato, não obstante sua própria intenção maligna o tornou culpado com justiça, pois depois ele se reconheceu: "Eu traí sangue inocente".

Foi o mesmo com a crucificação de Cristo. As Escrituras declaram claramente que Ele foi “entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus” (Atos 2:23); e que embora “os reis da terra se levantassem, e os príncipes se ajuntassem contra o Senhor e contra o seu Cristo “ainda assim, não obstante, era apenas “para fazer tudo o que Tua mão e Teu conselho determinaram antes de ser feito” (At. 4: 26, 28); quais versículos ensinam muito mais do que uma simples permissão de Deus, declarando, como eles fazem, que a Crucificação e todos os seus detalhes foram decretados por Deus. No entanto, foi por “mãos iníquas”, não apenas “mãos humanas” que nosso Senhor foi “crucificado e morto” (At. 2:23). "Mal" porque a intenção de Seus crucificadores era apenas má.

Mas pode-se objetar que, se Deus decretou que Judas traísse Cristo, e que os judeus e gentios O crucificassem, eles não poderiam agir de outra forma e, portanto, não eram responsáveis ​​por suas intenções. A resposta é que Deus havia decretado que eles deveriam realizar os atos que fizeram, mas na perpetração real desses atos eles eram justamente culpados porque seus próprios propósitos ao fazê-los eram apenas maus.

Que seja enfaticamente dito que Deus não produz as disposições pecaminosas (embora possa ser dito e comprovado na bíblia que DEUS é o autor do mal e da queda de Adão e Eva segundo a ordem dos decretos, interpretada pelos hiper-calvinistas supralapsarianos); de nenhuma de Suas criaturas, embora Ele restrinja e dirija para a realização de Seus próprios propósitos. Portanto, Ele não é o Autor nem o Aprovador do pecado. Esta distinção foi assim expressa por Agostinho: "Que o pecado dos homens procede de si mesmos; que ao pecar eles realizam esta ou aquela ação, é do poder de Deus que divide as trevas de acordo com o Seu prazer." Assim está escrito: "O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos" (Pv. 16: 9). O que insistimos aqui é que os decretos de Deus não são a causa necessária dos pecados dos homens, mas os limites e orientações predeterminados e prescritos dos atos pecaminosos dos homens. Em conexão com a traição de Cristo, Deus não decretou que Ele deveria ser vendido por uma de Suas criaturas e então pegar um homem bom, instilar um desejo maligno em seu coração e assim força-lo a realizar o terrível ato para executar Seu decreto. Não; não é assim que as Escrituras o representam. Em vez disso, Deus decretou o ato e selecionou aquele que deveria realizar o ato, mas Ele não o fez mal para que ele realizasse o ato; pelo contrário, o traidor era um "diabo" no momento em que o Senhor Jesus o escolheu como um dos doze (Jo. 6: 70), e no exercício e manifestação de sua própria Diabólica vontade; Deus simplesmente dirigiu suas ações, ações estas, que eram perfeitamente agradáveis ​​ao seu próprio coração vil, e realizadas com as mais perversas intenções. Assim foi com a Crucificação.

4. Como o pecador pode ser considerado responsável por receber a Cristo, e ser condenado por rejeitá-lo, quando Deus PREORDENOU-O PARA a condenação?

Realmente, esta questão foi abordada no que foi dito sob as outras perguntas, mas para o benefício daqueles que se exercitam sobre este ponto, damos-lhe um exame separado, embora breve. Ao considerar a dificuldade acima, os seguintes pontos devem ser cuidadosamente ponderados:

Em primeiro lugar, nenhum pecador, enquanto está neste mundo, sabe com certeza, nem pode saber, que ele é um "vaso de ira preparado para destruição". Isso pertence aos conselhos ocultos de Deus aos quais ele não tem acesso. A vontade secreta de Deus não é da sua conta; A vontade revelada de Deus (na Palavra); é o padrão de responsabilidade humana.

E a vontade revelada de Deus é clara. Cada pecador está entre aqueles a quem Deus agora “ordena que se arrependam” (At. 17:30). Cada pecador que ouve o Evangelho é "ordenado" a crer (1Jo. 3:23). E todos os que realmente se arrependem e creem são salvos. Portanto, todo pecador é responsável por se arrepender e crer.

Em segundo lugar, é dever de todo pecador examinar as Escrituras que "podem fazer-te sábio para a salvação" (2Tm. 3:15). É o "dever" do pecador porque o Filho de Deus ordenou que ele examinasse as Escrituras (Jo. 5:39).

Se ele os examina com um coração que busca a Deus, então   ele se coloca no caminho onde Deus está acostumado a se encontrar com os pecadores. Sobre este ponto, o puritano Manton, escreveu augo muito útil:

"Eu não posso dizer a todo aquele que lavra, infalivelmente, que ele terá uma boa colheita; mas isso eu posso dizer a ele: É o uso de Deus para abençoar o diligente e previdente. Eu não posso dizer a todo aquele que deseja a posteridade, case-se, e você terá filhos; eu não posso dizer infalivelmente àquele que sai para a batalha pelo bem de seu país que ele terá vitória e sucesso; mas posso dizer, como Joabe (1Crô. 19:13); 'Tende bom ânimo, e façamos valer a pena pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus; e faça o Senhor o que bem lhe parecer.' Não posso dizer infalivelmente que você terá graça; mas posso dizer a cada um: Deixe-o usar os meios e deixe o sucesso de seu trabalho e sua própria salvação à vontade e bom prazer de Deus. Não posso dizer isso infalivelmente, pois não há obrigação para com Deus. E ainda esta obra é feita o fruto da vontade de Deus e mera dispensação arbitrária - "Por sua própria vontade Ele nos gerou pela Palavra da Verdade" (Tiago 1:18). Façamos o que Deus ordenou, e deixe Deus fazer o que Ele quer. E não preciso dizer isso; pois o mundo inteiro em todos os seus atos é e deve ser guiado por este princípio.

Façamos nosso dever e encaminhemos o sucesso para Deus, cuja prática comum é encontrar-se com a criatura que O busca; sim, Ele já está conosco; esta séria importunação no uso de meios procedentes da sincera impressão de Sua graça. E, portanto, visto que Ele está de antemão conosco, e não mostrou nenhum atraso para o nosso bem, não temos razão para desesperar de Sua bondade e misericórdia, mas sim para esperar o melhor” (Vol. XXI, página 312).

Deus se agradou em dar aos homens as Sagradas Escrituras (No Brasil a bíblia: ACF. Almeida Corrigida Fiel, impressa pela SBTB, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil); que “testificam” do Salvador, e tornam conhecido o caminho da salvação. Todo pecador tem as mesmas faculdades naturais para a leitura da Bíblia que tem para a leitura do jornal; e se ele é analfabeto ou cego, de modo que não sabe ler, tem a mesma boca para pedir a um amigo que leia a Bíblia para ele, como tem que perguntar sobre outros assuntos. Se, então, Deus deu aos homens Sua Palavra, e nessa Palavra deu a conhecer o caminho da salvação, e se os homens são ordenados a examinar as Escrituras que podem torná-los sábios para a salvação, e eles se recusam a fazê-lo, então é claro que eles são justamente censuráveis, que seu sangue está sobre suas próprias cabeças, e que Deus pode lançá-los com justiça no Lago de Fogo.

Em terceiro lugar, deve-se objetar, admitindo tudo o que você disse acima, não é ainda um fato que cada um dos não eleitos é incapaz de se arrepender e crer? A resposta é, sim. De todo pecador é fato que, por si mesmo, ele não pode vir a Cristo. E do lado de Deus o "não pode" é absoluto. Mas agora estamos lidando com a responsabilidade do pecador (o pecador predestinado à condenação, embora ele não saiba disso), e do lado humano a incapacidade do pecador é moral, como apontado anteriormente. Além disso, deve-se ter em mente que, além da incapacidade moral do pecador, há uma incapacidade também. O pecador deve ser considerado não apenas como impotente para fazer o bem, mas como se deleitando no mal. Do lado humano, então, o "não pode" é um não querer; é uma impotência voluntária. A impotência do homem está em sua obstinação. Portanto, todos são deixados "sem desculpa", e, portanto, Deus é "claro" quando julga (Sal. 51: 4), e justo em condenar todos os que "amam mais as trevas do que a luz".

Que Deus exige o que está além do nosso próprio poder; está claro em muitas Escrituras. Deus deu a Lei a Israel no Sinai e exigiu um cumprimento total dela, e solenemente apontou quais seriam as consequências de sua desobediência (Dt. 28). Mas será que algum leitor será tão tolo a ponto de afirmar que Israel era capaz de obedecer plenamente à Lei!

Se o fizerem, devemos encaminhá-los para Romanos 8:3, onde nos é expressamente dito: "Pois o que a lei não podia fazer, sendo fraca por meio da carne, enviou Deus o seu próprio Filho em semelhança de carne do pecado, e pelo pecado, condenou o pecado na carne”.

Venha agora para o Novo Testamento. Tome passagens como Mateus 5:48; "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." 1Coríntios 15:34; "Acorde para a justiça e não peque." 1João 2:1; "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis." Algum leitor dirá que é capaz por si mesmo de cumprir essas exigências de Deus? Se for assim, é inútil discutirmos com ele. Mas agora surge a pergunta: Por que Deus exigiu do homem aquilo que ele é incapaz de realizar? A primeira resposta é: porque Deus se recusa a rebaixar Seu padrão ao nível de nossas enfermidades pecaminosas.

Sendo perfeito, Deus deve estabelecer um padrão perfeito diante de nós. Ainda assim, devemos perguntar: Se o homem é incapaz de estar à altura do padrão de Deus, onde está sua responsabilidade? Por mais difícil que pareça, o problema é, no entanto, passível de solução simples e satisfatória.

O homem é responsável por (primeiro) reconhecer diante de Deus sua incapacidade e (segundo) clamar a Ele por graça capacitadora. Certamente isso será admitido por todo leitor cristão. É meu dever confessar diante de Deus minha ignorância, minha fraqueza, minha pecaminosidade, minha impotência de cumprir Suas santas e justas exigências. É também meu dever sagrado, bem como um privilégio abençoado, implorar fervorosamente a Deus que me dê sabedoria, força e graça, que me capacitarão a fazer o que é agradável aos Seus olhos; pedir-Lhe que opere em mim "tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp.2:13).

Da mesma maneira, o pecador, todo pecador, é responsável por invocar o Senhor. De si mesmo, ele não pode se arrepender nem acreditar. Ele não pode vir a Cristo nem se afastar de seus pecados. Deus lhe diz isso; e seu primeiro dever é "colocar em seu selo que Deus é verdadeiro". Seu segundo dever é clamar a Deus por Seu poder capacitador; pedir a Deus em misericórdia para vencer sua inimizade e "atraí-lo" a Cristo; conceder-lhe os dons do arrependimento e da fé. Se ele o fizer, sinceramente de coração, então certamente Deus responderá ao seu apelo, pois está escrito: "Pois todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Rm. 10: 13).

Suponha que eu tenha escorregado na calçada gelada tarde da noite e quebrado meu quadril. Eu sou incapaz de me levantar; se eu permanecer no chão, devo congelar até a morte. O que, então, devo fazer? Se estou determinado a perecer, ficarei lá em silêncio; mas eu serei culpado por tal procedimento. Se estou ansioso para ser resgatado, levantarei minha voz e clamarei por socorro. Assim, o pecador, embora incapaz de se levantar e dar o primeiro passo em direção a Cristo, é responsável por clamar a Deus, e se o fizer (de coração); há um Libertador à mão. Deus "não está longe de cada um de nós"   (At. 17:27); sim, Ele é "socorro bem presente na angústia" (Sl. 46:1). Mas se o pecador se recusa a clamar ao Senhor, se ele está determinado a perecer, então seu sangue está sobre sua própria cabeça, e sua "condenação é justa" (Rm. 3:8).

Uma breve palavra agora, sobre a extensão/dimensão da responsabilidade humana.

É óbvio que a medida da responsabilidade humana varia em diferentes casos, e é maior ou menor com indivíduos particulares. O padrão de medida foi dado nas palavras do Salvador: “Porque a quem muito for dado, muito se lhe pedirá” (Lc. 12:48). Certamente Deus não exigia tanto dos que viviam nos tempos do Antigo Testamento quanto dos que nasceram durante a dispensação cristã. Certamente Deus não exigirá tanto daqueles que viveram durante a 'idade das trevas', quando as Escrituras eram acessíveis a apenas alguns, como Ele exigirá daqueles desta geração quando praticamente todas as famílias da terra possuem uma cópia de Sua Palavra para eles mesmos. Da mesma forma, Deus não exigirá dos pagãos o que Ele deseja dos da cristandade. Os pagãos não perecerão porque não creram em Cristo, mas porque falharam em viver de acordo com a luz que tinham – o testemunho de Deus na natureza e na consciência.

Resumindo. O fato, da responsabilidade do homem repousar sobre sua capacidade natural, é testemunhado pela consciência e insistido em todas as Escrituras. A base da responsabilidade do homem é que ele é uma criatura racional capaz de ponderar questões eternas, e que ele possui uma Revelação escrita de Deus na qual seu relacionamento e dever para com seu Criador é claramente definido. A medida da responsabilidade varia de indivíduo para indivíduo, sendo determinada pelo grau de luz que cada um desfrutou de Deus.

O problema da responsabilidade humana recebe pelo menos uma solução parcial nas Sagradas Escrituras, e é nossa solene obrigação, bem como privilégio, buscá-las com oração e cuidado em busca de mais luz, esperando que o Espírito Santo nos guie "em toda a verdade". Está escrito: “Os mansos guiarão no juízo; e os mansos ensinará o seu caminho" (Salmo 25: 9).

Em conclusão, resta salientar que é responsabilidade de cada homem usar os meios que Deus colocou em suas mãos. Uma atitude de inércia fatalista, porque sei que Deus decretou irrevogavelmente tudo o que acontece, é fazer um uso pecaminoso e prejudicial do que Deus revelou para o conforto do meu coração. O mesmo Deus que decretou que um certo fim será realizado também decretou que esse fim será alcançado através e como resultado de Seus próprios meios designados. Deus não despreza o uso de meios, nem eu.

Por exemplo: Deus decretou que "enquanto a terra durar, sementeira e colheita... não cessarão" (Gn. 8:22); mas isso não significa que o homem arar a terra e semear a semente seja desnecessário. Não; Deus move os homens a fazer essas mesmas coisas, abençoa seus trabalhos, e assim cumpre Sua própria ordenação. Da mesma maneira, Deus, desde o princípio, escolheu um povo para a salvação; mas isso não significa que não há necessidade de evangelistas pregarem o Evangelho, ou de pecadores crerem nele; é por tais meios que Seus conselhos eternos são efetuados.

Argumentar que, porque Deus determinou irrevogavelmente o destino eterno de cada homem, nos isenta de toda responsabilidade por qualquer preocupação com nossas almas, ou qualquer uso diligente dos meios para a salvação, seria o mesmo que me recusar a cumprir meus deveres temporais porque Deus fixou minha sorte terrena. E isso está claro em (At. 17:26; Jó. 7:1; 14:15, etc.); Se então a preordenação de Deus pode consistir nas respectivas atividades do homem nas preocupações presentes, por que não no futuro? O que Deus uniu não devemos separar. Se podemos ou não ver o elo que une um ao outro, nosso dever é claro: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que façamos todas as palavras desta lei" (Dt. 29:29).

Em (At. 27:22); Deus fez saber que Ele havia ordenado a preservação temporal de todos os que acompanhavam Paulo no navio; contudo, o Apóstolo não hesitou em dizer: "Se estes não permanecerem no navio, não podeis ser salvos" (v. 31). Deus designou esse meio para a execução do que Ele havia decretado. Em (2Re. 20), aprendemos que Deus estava absolutamente decidido a acrescentar quinze anos à vida de Ezequias, mas ele deve pegar um pedaço de figo e colocá-lo em sua fervura!

Paulo sabia que estava eternamente seguro na mão de Cristo (Jo. 10:28), mas ele "manteve debaixo de seu corpo" (1Cor. 9:27). O apóstolo João assegurou àqueles a quem escreveu: "Vós permanecer nele”, mas no versículo seguinte ele os exortou: “E agora, filhinhos, permaneçam nele” (1Jo. 2:27, 28). Somos assim, responsáveis por usar os meios designados por Deus, para que possamos preservar o equilíbrio da Verdade e ser salvos de um fatalismo paralisante.

Pesquisador, Tradutor, Editor e Organizador: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.

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